domingo, 19 de maio de 2019

Ars dictaminis 2

Antecipadamente, dei minha resposta ao problema. A hipótese para ela, é que o tipo de Salvador que ela deseja só podia ser conservado na sua mente mediante uma sofrida desfiguração da realidade. Por várias razões, sua visão desta não podia ficar pura, completa, digna, honesta, digo: sem ''adições''. O millieu em que se movia essa estranha e confusa donzela, deve ter deixado nela vestígios, coisas sopradas no ouvido, ordens de última hora, pressões e insinuações grosseiras para uma sensibilidade nervosa tão afeita à premissas da ''manutenção do emprego''. Mas seu testemunho, afetado desde o início, foi ainda ''enriquecido'', posteriormente, com uma série de traços q não podem ser interpretados senão por motivos de guerra eleitoral, como fins de propaganda. Esse mundo estranho e enfermo, no qual nos introduz o Evangelho de sua Empresa, a CNN --- o mundo como uma novela russa, o mundo de Versilov e Chatov, onde as fezes da sociedade, as doenças nervosas da mídia e a imbecilidade infantil das cores parece ter-se combinado à ''praso-dado'', para controlar algum efeito psicológico sobre a audiência, deve tê-la tornado por fim mais tosca, e à suas maneiras, sem que a direção de arte da reportagem se apercebesse. Sua crueza inicial, para compreender a COISA, ou mesmo para compreender qualquer coisa (desconfiamos nós, os pessimistas) nos revela um ser frágil no cumprimento obrigatório de suas funções restritas, formado essencialmente por uma cartilha de símbolos inventados, onde o pensamento livre é inibido sem cerimônia, e tateando , de forma até comovente, o abismo vazio em busca de coisas intangíveis, enquanto apaga desastrosamente da realidade as feições originais desta com pequenos pensamentos suspeitos, e idiossincrasias que ela mesma não percebe.

K.M.

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