quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

TEATRO DA VALORIZAÇÃO CAPITALISTA

As tramas com que o capital espetacularizado hoje se reproduz, no interior de uma venenosa e violenta mistura de poderes, revelam uma estratégia de manegement ambivalente e, muitas vezes, ambígua, fluida, vacilante e metamórfica em alta voltagem, capaz de se rearticular instantaneamente sem deixar de repercutir opressivamente nos corpos sociais. Tais dispositivos de captura das forças de valorização (obviamente) deflagram um processo de progressivo refinamento, desvio, aprofundamento e alargamento de seus horizontes de expansão. Os nexos de saber-poder da Sociedade do Espetáculo, na qual o capital se desenvolve atualmente, se organizam para capturar, desnaturalizando-as, as potências valorizantes do General Intellect (da intelectualidade, mas também, e sobretudo, da afetividade de suas massas de manobra), nas prisões do proprietário e no induzido impulso aquisitivo, numa espécie de teste forçado dos limites da MENTIRA. O curto-circuito entre subjetividade e anomia objetivante começa a se tornar turbulento e incontrolável a partir da percepção, ainda difusa, de sua gravidade social. Primeiro, o capital tentou gerir tal turbulência descarregando sobre o trabalho os custos de seus riscos empresariais; agora, reorganizando-se dentro de um novo modelo modelo de controle (quase imperceptível), aprofundando a exploração que individua os componentes de valorização não mais no tempo de trabalho , mas diretamente nas qualidades específicas (materiais e imateriais) do BIOS e dos territórios sociais (bioeconomia). Essa bem sucedida produção financeira (ilusória) de riqueza (efeitos-riqueza) tornaram obsoletas as categorias de análise econômica moderna, tais como Trabalho-Consumo, Trabalho Produtivo-Improdutivo, Renda-Lucro, Salário-Renda, etc. Tornou-se urgente e necessário desconstruir o ''problema econômico'' no interior de um dispositivo conceitual mais elástico, que supere o enquadramento dos esquemas de investigação presos à gramática econômica. As subjetividades do valor, dos processos de precificação, mudaram profundamente (da fábrica à fábrica social), e com elas as estratégias de exploração empresarial que tornam possível o processo de acumulação capitalista. O novo dispositivo de extração da mais-valia exercita uma ação invasiva (panótipa) de captura das condutas, das emoções, expectativas, desejos, sonhos de consumo e orientações dos indivíduos sociais, que após serem reduzidos à uma massa de consumidores de porcaria na pele de trabalhadores precarizados, na era fordista de acumulação, agora se vêm empurrados para a humilhante condição de cobaias bursáteis sem futuro ou remuneração (dóceis, obedientes e descartáveis, sorrindo seu interminável sorriso de melancia para a TV, asujeitados aos hábitos e regras da Sociedade do Espetáculo). Com uma perigosa dilatação ad libitum da relação débito-crédito, o efeito-riqueza dos mercados financeiros produzem uma espécie de ilusório seguro social para substituir o estilhaçamento do modelo de proteção social anterior, extraindo daí novos impulsos aos seus processos de acumulação (aquilo que Christian Marazzi chamou de ''privatização do deficit spending keynesiano). Tal dispositivo cria novas riquezas confundindo e reorientando os interesses da força de trabalho  assalariada para dentro do próprio corpo do capital, fragmentando-a e enfraquecendo-a politicamente. A subjetividade humana, desorientada e mutilada em seu lado social e político, desconectada da ''propriedade'' do seu intrínseco fazer social (coOperar) e, portanto, submetida aos imperativos do sistema, começa a girar sobre si mesma no vértice mortífero do consumo dos gadgets e de sua ilusória liberdade aquisitiva, originando um cenário no qual o sujeito, o indivíduo humano, vê sua capacidade de ter impressões próprias sobre qualquer coisa, absolutamente restrita às malhas da medida de valor, pelo Teatro da Valorização Capitalista, servindo gratuitamente aos seus imperativos. Tal mecanismo de invasiva subsunção do fazer social no capital  não necessita mais ser instituído dentro do tema do trabalho; funciona dentro e fora dele: no consumo, nos cuidados, nas relações, nas linguagens, nos afetos e até mesmo no inconsciente... de modo que a única subjetividade capaz de alcançar força ética e política para subtrair-se ao gozo persuasivo e mortífero, e ao comando tambÉm violento e repressivo que o capitalismo contemporâneo continua jogando e exercendo sobre nossos corpos e vidas, é aquela derivada dos estados de consciência intensificada, da experimentação livre e apartidária no Olho clarividente da Clareia poética, através do Tantra e da Meditação.

K.M.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

RE-LIGARE

Desentendo-me comigo
naquilo que me lê, e que
amontado revê o desenho
da ação, em TESE.
O que vira artigo de troca
não procede exatamente
do que vejo caminhando
contra certa cheia de acertos.
Seguro em meus dedos
a fruição do gozo, no MEIO,
antes do fim, para que quando
se ofereça o prazer previsto,
o outdoor sentido seja
inesperadamente vivo, e
faça valer a pena o EU
parado na porta da percepção.
Assim consigo dirimir a vida
irredutível do destino escrito,
extraindo e fixando sua essência.
A felicidade, convertida alquimicamente
dentro dos laudos terminais
continuará presa no mar engalfinhado,
sob seios e interjeições pudicas,
assim como nas mãos vazias
seguirá inoculada a máquina muda
da leitura, acesa e inconsútil,
ciente de todo detalhe insuspeitado
e toda possibilidade de alastramento.
Ilimitado ou banhado por
nuvens de sal e ódio, o
esgrimado suor sujo
do Poeta, adentrará o sonho proibido,
combinando rostos e bocas
em meio aos maus augúrios do Destino.
MAS NEM TANTO! A palavra
é mais coerente, CACHORRO!
Sim, com os DENTES!
Desnecessário dizer
o que ocorre AQUI.

K.M.

YOGA FINANCEIRA

...socialização dos riscos, mas também das perspectivas complementares de enriquecimento que põem em jogo a direção do ajuste dos comportamentos humanos necessários para uma relação lucrativa entre soberania estatal e financeirização da economia. Nesse contexto, o nível da produção de riquezas de um país torna-se resultado direto da mera avaliação acionária,o que inverte a relação entre esfera real e financeira da economia que prevalecia durante o fordismo: a dinâmica do mercado acionário substitui o salário como fonte de crescimento cumulativo. Assim, a financeirização dita os tempos da reorganização capitalista, facilitando a subsunção da circulação no interior do processo de valorização. Desenvolve-se, em outras palavras, verdadeiras e peculiares formas de apropriaçao disso que surge como simples valor de uso. O comando da New Economy criou rendimentos acionários destruindo salários e estabilidade ocupacional, em sintonia com um novo senso comum, presente na cartilha liberal americana e propagada pela mídia especializada em lobby democrata: as condições vigentes nos mercados financeiros para criar valor acionário  incentivam inovações organizacionais extremas, promovendo processos de downsizing, reengineering, outsourcing, merger e acquisitions ---- desvalorizando o trabalho vivo. A recuperação da Bolsa americana em 2003, por exemplo, só se deu através de uma CONVENÇÃO complementar à CONVENÇÃo do capitalismo cognitivo, com que já se operava,entendendo que a valorização acionária dependia também de outsourcing em direção aos países emergentes com elevada exploração do trabalho e do ambiente, ainda que dentro do mesmo paradigma tecnológico, como a China e a Índia. Algo como um exército industrial de reserva, de origem essencialmente financeira, que desterritorializou completamente a geração de empregos no mundo, caracterizando-se (em todos os pólos do processo) pela difusão do perfil do trabalhador traumatizado, poupador, maníaco-depressivo, alienado, adestrado (politicamente) pela indústria cultural americana e reduzido a um flagelo de consumidor endividado. No fim das contas, o excedente do trabalho vivo não vem ''reconhecido'', legitimando apenas a produção do capital.

Post Scriptum

O problema da emancipação laboral (obviamente) reside na irrelevância com que são tratados pelo monopólio midiático liberal aqueles comportamentos subjetivos (e cooperativos) dos quais dependem tanto a sustentabilidade do regime de acumulação quanto o possível exercício de um conflito. De modo que torna-se necessário (e urgente) se perguntar: até que ponto pode durar essa super-exploração constante (de natureza Democrata e Liberal) das consciências qualificadas que são sedimentadas graças a determinados fatores institucionais (a democratização do saber subjugada pelas fábricas de fake news alienantes)? Isto é, sob quais condições a consciência humana pode continuar a representar um fundamental elemento de valorização no capitalismo contemporâneo, enquanto o que há de mais elevado e precioso continuar sendo deturpado pela ganância e a desfaçatez do lobby especializado e politicamente aparelhado?

K.M.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

FIGURAÇÃO DIFÍCIL

LEIO: estou no meio,
encolhido, DENTRO,
entretido pela salada
do faz de conta que 
me contém ''hors-texte''
(contra a parede, no pulo
que rebate a posição anterior).
A respiração da caneta
e a cabeça mais presa
na curva da página
completam a usura de tinta:
o GADO olha, sabe que
isso não terá fim, nunca...
então ajusta, flaubertiano,
nas cascas da linguagem
exatamente o sentido
que faltava no puzzle do JOGO.
Figuração difícil, depois
a ESPERA, a PEÇA e
os CUSTOS para
descartar nomes e hipóteses
apressadas. Uma parte dos RISCOS
tornam a regra mais rigorosa
enquanto a ''etiqueta bem pensante''
reflete os tiques sumários
que simularão aplacar o futuro.

K.M.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Aumento puro e simples do valor acionário.

A relação entre ACUMULAÇÃO, LUCROS e FINANCEIRIZAÇÃO se transformou para poder aumentar seus rendimentos. Ele não consiste mais em investimentos em capital constante e em capital variável (salário), mas sim em investimento em dispositivos de produção e captação do valor produzido fora dos processos diretamente produtivos. Essas tecnologias de ''crowdsourcing'' representam a nova composição orgânica do capital: a relação entre capital constante difuso na sociedade e capital variável, também ele desterritorializado, desespacializado, disperso na esfera de reprodução, do consumo, das formas de vida, do imaginário individual e coletivo. É exatamente isso que permite explicar a crítica perda de valor dos meios de produção clássicos, com todas as suas implicações sócio-políticas e sócio-econômicas. O recurso às Bolsas de Valores simplesmente não financiou os investimentos geradores de aumento do emprego e do salário, e sim o aumento puro e simples do valor acionário.

K.M.

sábado, 26 de janeiro de 2019

CHUVA TIBETANA

A chuva tibetana jamais será
totalmente imaculada, já que
a mosca intrusa corre babando
para debaixo da nuvem turbulenta
assim que vê ela chovendo
sua voracidade funcional; quando
o foco fecha os olhos no difícil
escuro espermilhado da distância,
como infinita reposição de si.
Fazendo a escultura elétrica
depurar-se na draga fixadora,
no suporte pineal, no limite do
erro pau-tado, acaba aparecendo
na última linha do poema, a
beleza interceptada, como arte
de vândalo redivivo ---- nesta
última linha viva de consulta
é que se soletra sua paz
de sensações distantes, 
mas tão próximas da ordem 
de ligações impercebidas, que
parece que toda fiação dada
neste instante, vem do resto 
desesperado da cópula, que ainda 
delira tenebrosamente pela manhã.
Vem dos fios que tem luzes abertas
no alarme do último lacre de segurança
do teste deslizante. Vem da Alma,
que ainda pode fugir olhando
o espelho retrovisor reter
um pouco da face que esfria,
pela manhã, sua biografia na cama.

K.M.

CRISE DE LEGIBILIDADE DO CAPITAL

O statuto dos saberes ocidentais mudou radicalmente nos últimos dezesseis anos: todo o corpo de conhecimentos técnicos e culturais se tornou força produtiva, e a crítica destes assumiu a forma de crítica da economia política, até mesmo como condição de validez universal. Novos lugares de experimentação, em que novas relações entre produção de conhecimento, práticas políticas e administração de conflitos precisam ser testadas rapidamente, antes de começarem a serem postos à prova durante os grandes enfrentamentos mundiais em si. As finanças globais também devem começar a ser investigadas por um método semelhante. A produção de riquezas e o trabalho humano, no mundo atual, estão se articulando por meio de um controle de processos de valorização e acumulação de capital que funciona com uma lógica muito diferente da ''meramente industrial'' ---- a captura da produtividade de potências abstratas comuns, do Saber à Bios, e a hibridização entre capital financeiro e novas formas de socialização, exploração da mais-valia e colonização psíquica via WEB é o novo território no qual ''tornar-se rentista do lucro''. E para aventurar-se no conceito de política moderna que nasce a partir desta conjuntura, torna-se essencial revisitar o conceito de OPINIÃO PÚBLICA, que desde o capítulo 12 da General Theory, de J.M. Keynes, nós nos habituamos a investigar no terreno das Bolsas de Valores. Qual é exatamente o papel da Opinião Pública numa situação em que, quase a evocar uma crise de legibilidade (a incapacidade do capital de ler a composição do trabalho de cuja exploração ele vive), a Opinião se encontra ''precificando a tudo e a todos'' no interior de uma turbulenta nuvem de dados sistêmicos, que desloca a subjetividade humana para uma posição infame e atocaiada de ''leitora não-convergente'' destes mesmos dados?

K.M.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

KUNG FUI

Nossa parte vazia
crepita cada peixe
arrancado de nosso aço;
e, no entanto, nosso aço
ainda tece, AQUI, suas
toneladas de equivalência
furta-cor, estocando aquela 
energia furtiva dos complôs,
transformada em 16% de
TUDO QUE FALA, e refutando
70% da SOMA TOTAL,
com suas multidões curvas
solicitando para todos os ventos
novos pendões de intriga. 
É o AÇO que separa os homens
entre mudos auto-referentes e 
sempre mutáveis bicos franceses,
entre fótons espermáticos ilocalizáveis
e agulhas de acupuntura cravadas
nos pontos errados do corpo diplomático.
Minha garganta catarrenta SABE:
que assim os cúmulos abortivos
se exaltam com seus concorrentes;
e que enquanto o formigueiro
aprende a ler, a pauta comercial
anuncia alguma preparação,
com proteínas informáticas
(militarmente respaldadas)
vedando duvidosos restos políticos
nas pupilas do mundo impedido.

K.M.

Olho de Respiração Imóvel

O mais puro exercício
do espírito-frila, armado
de linhas de frio e susto
entre tantos outros riscos.
Com caneta empesteada
no papel, essa peripécia
do pensamento estala as
molas de sua catraca, e
não retorna atarraxado
da própria duração de faquir...
NÃO: dura na curva do
QUATRO INCRÍVEL, do
QUATRO ORIGINAL, do
QUATRO ÚNICO; dura
se o Grande Poeta, se
a Mão Sinistra, se
o Monstro, essa mescla de
corpo energético e letra,
mantém na cerimônia
certa intimidade de 
Sombra alastrada.
E é na Solitária vetorial
de todos os ioiôs do Ibope
que se cumpre o resto da sentença:
entre a mutação dos riscos
e as sobremesas do Não-Ser, 
com a caneta inserida no
corpo vedado da anti-matéria.
Ali, os veios que assinam o
Outro-Eu, dentro da conversa
muda do Poeta consigo mesmo,
surpreendem na parede outra Sombra
(aquela silhueta que se deixou
extrair da dentadura estetoscópica,
COMO se diz: a Sombra mimética,
ártica e insubmissa da inação).

K.M.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

COM PASSO CERTEIRO

Mantenho-me CONTRA,
retendo todos os ápices
gerados pela rapidez.
E penso em usar ainda melhor
o gesto incisivo que imagino,
precisamente com sua ASA
de rápida exegese, voraz-
MENTE repetido no gargalo.
Submerso, continuo. Escurece.
Fora há a crítica dosada
por dentro, apesar de suas pautas
de validade vencida, SEMPRE
RETROCEDENDO, em busca
da metáfora (que atualiza).
O escritor é sem-teto, mas
eles não detém a Metáfora.
No mais, tudo nos distancia:
o estilo conflituoso, excludente,
a incisividade exclusivista e o
passo inquisitorial do alquimista,
classificando cargas e voltagens
entre suas posses egoístas.
Abertura mesmo, só de alguns
palmos precisados tentacular-
MENTE, abduzindo partículas
que o CINZA fechou em recipientes.
Na profusão de erros desusados
da EXPERIÊNCIA,  a turbulência
do POEMA aprova apenas o rascunho
que alarga o texto e sua usura épica.
Fogo lavado pela chuva, perto de
onde a PAUSA sugere à Mão
a Letra trêmula e fora de alcance.
Com o cenho franzido, componho
pelo menos a linha onde a LUZ
emudece todo musgo vingativo
entre os DENTES ---- aquela
instantânea e insegura
soteriologia do gozo, sem 
seus aquosos disfarces de
CERCO, CULPA e RESERVA.

K.M.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Ápice da Meditação

IMPRIMIR AO DEVIR O CARÁTER DO SER. Conservar o mundo do ''sendo '', da duração ---- que tudo retorna sem cessar é a extrema aproximação de um mundo do DEVIR com um mundo do SER. Ápice da meditação. A aparência era o que emprestava o valor. O DEVIR considerado como invenção, como querer, como negação de si , como vitória sobre si mesmo; não um sujeito, mas uma AÇÃO , uma avaliação criadora, nada de ''causas e efeitos ''. A arte considerada como vontade de suplantar o DEVIR, como ETERNIZAÇÃO, mas de vista curta, segundo a perspectiva : repetindo de qualquer forma, em pequena escala, a teoria do conjunto.

*

Causa e efeito. ''Explicação '' é como chamam isso. Mas é ''descrição'' , o que nos distingue das etapas mais antigas do conhecimento e da própria ciência. Explicamos tão pouco quanto todos os antigos ---- mas DESCREVEMOS MELHOR. Trouxemos à tona uma sucessão diversificada enquanto o homem e o pesquisador primitivo das antigas culturas só via as coisas de duas formas, como CAUSA como EFEITO, conforme o discurso; aperfeiçoamos a imagem do VIR A SER ,mas nao avançamos com a imagem por trás da imagem. Em todos os casos, a série de causas situa-se à nossa frente, muito mais aperfeiçoada, e concluímos que isso e aquilo devem vir antes, para que aquilo outro venha depois ---- mas com isso NÃO-ENTENDEMOS-NADA. Por exemplo, tanto antes quanto depois, a qualidade em cada ''vir a ser '' químico parece um ''milagre '' , assim como todo avanço; ninguém ''explicou '' o impulso. Como poderíamos explicá-lo ???, mexemos com um monte de coisas que não existem, como linhas e planos e tempos e espaços fracionáveis ---- como seria possível explicar as coisas se primeiro transformamos tudo numa ''imagem '', A NOSSA IMAGEM !

*

É suficiente encarnarmos a ciência como uma humanização das coisas, o mais fiel possível, aprendemos a nos descrever com cada vez mais perfeição, na medida em que descrevemos as coisas e sua sequência. Causa e efeito : provavelmente uma dualidade como essa não existe nunca, na verdade, há um ''continuum '' à nossa frente, do qual isolamos alguns pedaços, assim como sempre percebemos um movimento apenas como pontos isolados, que na verdade não vemos, mas que concluímos existirem. A forma repentina como muitos efeitos se sobressaem nos deixa confusos; mas ela é repentina APENAS PARA NÓS. Nesse instante repentino, existe uma quantidade infinita de processos que nos escapam . O intelecto que visa a ''causa e o efeito '' como um ''continuum '', e não à nossa maneira de ver, como algo partido e fragmentado aleatoriamente, talvez fosse capaz de ver o fluxo do acontecimento em suas minúcias constitutivas e estruturais , e rejeitaria o conceito de causa e efeito, negando TODA CONCESSÃO DE CONDICIONALIDADE à uma forma de cognição mais depurada e exigente.

*

A razão é portanto uma fonte de revelação para o que é em si. Mas a origem dessa antinomia não tem necessidade de remontar necessariamente a uma fonte sobrenatural da razão : basta opor-lhe a verdadeira gênese das idéias ---- essa retira sua origem da esfera prática, da esfera da utilidade, e eis porque possui ela sua ''fé viva'' (pereceríamos se não concluíssemos segundo a razão : mas por meio dela o que se afirma não está ''demonstrado '' . O erro dos filósofos reside no fato de verem na lógica e nas categorias da razão, em vez de meios para acomodar o mundo a fins utilitários (portanto, em princípio, para uma ''falsificação útil ), o ''critério de verdade '' isto é , da REALIDADE . O critério da verdade era com efeito apenas utilidade biológica de semelhante sistema de falsificação por princípio---- os meios foram mal interpretados como medida de valores, e utilizados até para condenar sua própria intenção...a intenção era de enganar-se de uma maneira útil ; o meio era a invenção de fórmulas e de sinais pelos quais se pudesse reduzir a multiplicidade acabrunhante a um esquema útil e manuseável.

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Nosso mundo empírico seria tbm condicionado pelas fronteiras do conhecimento aos instintos de conservação ; teríamos por VERDADEIRO, por bom, por precioso o que serve para a conservação da espécie... e a vontade do verdadeiro não é uma potência moral, mas uma forma da vontade de poder. As diferentes teorias fundamentais do conhecimento são consequências de apreciações de valores.

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Num mundo que está em seu DEVIR, a ''realidade'' é somente uma simplificação em face de um fim prático ou uma ilusão fundada sobre órgãos grosseiros, ou uma alteração no ritmo do DEVIR.

*
Sustentar que as coisas tem uma modalidade em si, abstração feita da interpretação e da subjetividade, é uma hipótese absolutamente ociosa : esta suporia que o fato de interpretar e de ser sujeito não é essencial, que uma coisa afastada de todas as relações é ainda uma ''coisa ''. Ao contrário, o caráter das coisas, ''objetivo '' na aparência, não pode reduzir-se simplesmente a uma ''diferença de grau'' em meio do subjetivo ???, O que muda lentamente apresenta-nos como ''objetivo'', como ''sendo '', como ''em si '' ??? Ser o objetivo somente uma falsa concepção da espécie, uma antinomia no meio do subjetivo ??Contra o valor do que é eternamente igual a si mesmo ( vede a ingenuidade de Espinosa e tbm a de Descartes ), o valor do que há de mais curto e passageiro, o traiçoeiro brilho de ouro no ventre da serpente da vida.

*
É PRECISO REUNIR-SE MUITA COISA PARA QUE SURJA UM AUTÊNTICO PENSAMENTO CIENTÍFICO ; E TODAS ESSAS FORÇAS NECESSÁRIAS TIVERAM QUE SER INVENTADAS, TREINADAS, CULTIVADAS INDIVIDUALMENTE. MAS EM SUA INDIVIDUALIZAÇÃO, FREQUENTEMENTE ELAS REVELARAM TER UM EFEITO BEM DIFERENTE DO QUE TEM HOJE, EM QUE, NO ÂMBITO DO PENSAMENTO CIENTÍFICO, ELAS SE RESTRINGEM MUTUAMENTE E SE MANTÉM CONTROLADAS : ----TIVERAM O EFEITO DE VENENOS, COMO POR EXEMPLO O IMPULSO DA DÚVIDA, DA NEGAÇÃO, DA ESPERA, DA REUNIÃO, DA DESAGREGAÇÃO. ANTES DE APRENDER A DOMINAR ESSES IMPULSOS, A HECATOMBE. DEPOIS, JUNTAS, COMO FUNÇÕES DE UMA SÓ FORÇA ORGANIZADORA EM UMA PESSOA. E ENTÃO CHEGAMOS PERTO DE DESCOBRIR QUE PARA O PENSAMENTO CIENTÍFICO TBM PRECISAMOS DAS FORÇAS ARTÍSTICAS E DA SABEDORIA PRÁTICA DA VIDA, QUE NELA SE FORMA UM SISTEMA ORGÂNICO SUPERIOR COM NOSSA FILOSOFIA.

K.M.

MOMENTOS DA VERDADE.

Em todos os lugares hoje em dia se trata mais o u menos de tudo e é bom que seja assim. A par das tendências de nivelamento que SE CRUZAM entre si ---- e com isso eu chego ao tema ----, observam-se tbm tendências paralelas. Em primeiro lugar, a penetração de maneiras de pensar históricas e etnológicas nas disciplinas de orientações teóricas fortes ; o mundo da vida só aparece ainda no plural; a eticidade substitui a moralidade, o cotidiano substitui a teoria, a ruptura, a continuidade, o particular, o universal. Essa tendência, por um lado, despertou a desconfiança contra as fortes sistematizações e super-generalizações, contra as construções de teor normativo  de modo geral ; por outro, promove uma auto-desconfiança falibilista salutar e a tolerância em relação aos modos de proceder de ciências maleáveis, que não se sujeitam aos ''standards '' científicos positivistas. Hoje nada é menos aceitável do que a distinção normativa da ciência unitária ---- a concepção de ''unified science . Em segundo lugar, muitas abordagens filosóficas convergem hoje na suplantação do paradigma da filosofia da consciência, dominante faz mais de duzentos anos ---- com seus conceitos chave de sujeito e consciência de si. Essa crítica tem naturalmente seus precursores nas tentativas pragmatistas, linguísticas e antropológicas de elevar a um nível filosófico , contra o dualismo cartesiano de corpo e espírito , categorias ''terceiras '' como AÇÃO , LINGUAGEM e SER VIVO . Em uma consideração interna à filosofia,  Nietszche e Heidegger devem sua incrível atualidade constantemente renovada nos dias de hoje à esse enfrentamento. E julgo que um dia ainda veremos o verdadeiro FEITO FILOSÓFICO (Ereignis ) de nossa época na remoção  absoluta do paradigma da consciência para o da super-consciência, semelhante ao corte de sua inauguração em termos de filosofia transcendental por parte de Kant . Mas ainda há o que se discutir sobre o desfecho correto desse processo de substituição que, entre outras tantas coisas, pretendemos estar ''operando integralmente '' na ''superfície de todo o planeta'' nesse ''exato instante ''. Trata-se da questão de saber se CONTINUAMOS  a autocrítica de uma modernidade em conflito consigo mesmo e se podemos obter , no interior do horizonte de nossa própria atualidade, uma certa distância suficiente em relação às patologias do pensamento voltado ao PODER DE DISPOR ----- ou se, como muitos ainda afirmam, o projeto de uma emancipação da menoridade auto-imputável já se encontra definitivamente exaurido. Aqueles que como eu acreditam deixar para trás sem remorso todos os paradigmas e poder adentrar na clareira intensiva da criação e recriação das formas são representativos de um terceira tendência. Assim, procuro vincular minha crítica da filosofia do sujeito a uma crítica da razão na qual a razão só aparece ainda em ''genitivus subjectivus '' ----- e na qual , de modo paradoxal , permanece em aberto quem ou o que deve ocupar o lugar do ''genitivus subjectivus '' (se já não é mais a própria razão ). A essa minha crítica TOTAL da razão se vinculam muitas outras  ''despedidas '', não apenas a de Descartes, mas tbm de todas as suas virtudes : do pensamento metódico, da responsabilidade teórica, e daquele igualitarismo do pensamento científico que rompeu com todo acesso privilegiado à verdade.  Minha cruzada contra uma razão instrumental inflada em totalidade assume, ela tbm, alguns ''traços totalitários''.  No entanto, mesmo assim, apesar de seus ''defeitos'' ,  minha tendência esconde um momento de verdade singular -----  que quando um  processo de Esclarecimento é interrompido, é porque ele está precisando  esclarecer a si mesmo.

K.M.

Os feitos da palavra e da espada são mais fáceis de se lembrar do que os do dinheiro.

Em parte, o consumo ostensivo de produtos culturais foi um resultado direto da conjuntura comercial , que transformou os investimentos no patrocínio das artes numa forma mais útil ou até mais lucrativa de utilização do excedente de capital do que seu reinvestimento no comércio.

Era natural que os grupos dominantes --- mercadores e profissionais, a maioria deles com alguma formação em leis e em contabilidade , e a maioria deles com experiência nas disputas no fórum e no mercado ----- acreditassem que as palavras podiam ser tão poderosas quanto as espadas. É provável que a confiança dos comerciantes e dos políticos n a eficácia d a persuasão diplomática e forense, como um adjuvante de força militar ou um substituto dela, tenha sido acentuada pelo ressurgimento do interesse na literatura clássica. Por sua vez, sem dúvida, essa confiança fortaleceu o novo humanismo e contribui para lhe dar sua inclinação predominante pela retórica pública. Ninguém é capaz de avaliar agora a verdadeira eficácia dessa forma de guerra psicológica. 

A substituição crescente, da espada pela palavra, como meio de se chegar ao poder, foi um aspecto central na consolidação do sistema entre as cidades -Estado italianas.. mas nem as palavras nem espada teriam sido suficientes para criar o protótipo do futuro sistema inter-estatal da economia mundial européia , não tivessem elas sido suplementadas, ou melhor, escoradas pelo poder do dinheiro. Os feitos da palavra e da espada são mais fáceis de se lembrar do que os do dinheiro.

AS altas finanças foram uma invenção florentina.

A contribuição decisiva e duradoura do RENASCIMENTO ITALIANO para o o desenvolvimento do capitalismo como sistema mundial situou-e na esfera das altas finanças. Foi nessa ESFERA INVISÍVEL em que se formaram os órgãos e estruturas do primeiro ciclo sistêmico de acumulação.

K.M.

''Princípio emergente da concentração sem centralização '' --- BASTIDORES

S.Y. Harrison diz : '' Em vez de definhar, o poder econômico concentrado vem mudando de forma, à medida que as grandes corporações criam toda sorte de alianças e acordos financeiros e tecnológicos a curto e longo prazos, seja entre elas, seja com todos os níveis de governo, seja com legiões de firmas, geralmente  (mas não invariavelmente)  menores, que funcionam como seus fornecedores e sub-empreiteiros. Primeiro os dirigentes separam as tarefas permanentes (nucleares ) e as contingentes (periféricas ). Em seguida, o tamanho do núcleo é reduzido ao máximo , o que, junto com a minimização de estoques, é a razão por que as firmas ''flexíveis '' costumam ser descritas como praticantes de uma produção 'enxuta'. Essas atividades, assim como os seres humanos que as executam, são então posicionados, tanto quanto possível, em diferentes partes da companhia ou rede, ou até mesmo em diferentes locais geográficos''.

*

''A estratégia das grandes empresas que operam internacionalmente, transformando as vantagens das pequenas empresas em um instrumento de consolidação e expansão de seu próprio poder, tem-se evidenciado no mundo inteiro. Mas em parte alguma ela foi adotada com mais sucesso e sistematicidade do que no Leste Asiático. Sem a ajuda de múltiplas camadas de sub-empreiteiros formalmente independentes, observou a Organização de Comércio Exterior do Japão que ''as grandes empresas japonesas tropeçariam e afundariam '' (Okimoto , 1988).

*

 ''As estreitas cooperaçoes entre grandes e pequenas empresas baseiam-se em arranjos informais entre as próprias matrizes, 'sob a forma de acordos de comércio semipermanentes e de controle acionário inter-grupal, o que permite que a direção se concentre no desempenho a longo prazo, e nao a curto prazo '' (Eccleston )

*

''A partir do inicio dos anos1970 , a escala o alcance desse sistema de terceirização multi-estratificado aumentou rapidamente, através de seu transbordamento para um número e variedades crescentes de países do Leste da Ásia'' (Ikeda )

*

''Esse transbordamento deu uma grande contribuição para a expansão economica de toda a região do Leste da Ásia e fortaleceu a competitividade das grande empresas japonesas na economia global. Tbm contribui para a diáspora chinesa no exterior, umapoderosa rede de empresas familiares de médio porte, costurada por laços étnicos , casamentos, fusões, ligações políticas e uma cultura ética comerciais comuns. Embora muito difundidas nas regiões marítimas e costeiras do Nordeste e Sudeste da Ásia, as redes dessa diáspora não tardaram a se transformar na organização empresarial dominante da região e principal intermediário da reintegração da CHina Continetal naeconomia global''. (So e Chiu )

Post Scriptum

Por fim , na medida em que o Leste da Ásia esteja realmente em melhor situação pararealizar o pleno potencial de tendências atuais para a ''concentração sem centralização '', o sistema emergente trará de alguma forma ''marcas'' sociais e civilizacionais não-ocidentais.

INTERESSO-ME QUASE EXCLUSIVAMENTE PELAS TRANSIÇÕES HEGEMONICAS COMO MOMENTOS DE REORGANIZAÇÃO DO SISTEMA MUNDIAL MODERNO, SOB O IMPACTO DA CONCORRÊNCIA INTER-EMPRESARIAL E INTER-ESTATAL.

É A QUESTÃO DAS ''BASES CIVILIZACIONAIS '' DAS HEGEMONIAS MUNDIAIS

K.M.


BASTIDORES


SE fosse concebível, teria enriquecido
a vida de Manhattan
ou qualquer outra cidade ou metrópole.
Os textos de sua matéria-prima inicial estão provavelmente perdidos
com a perda dos periódicos de vida precária
e o nosso conhecimento de Horvey
Stickney, Loring
a legião perdida ou como disse Santayanna :
---- Eles apenas morreram.
A essa altura, Tseng disse :
----- O que aduzira à esta alvura ?? ,


*
...porém, do outro lado
EMPHASIS
no Senado, caramba !
Por que ele (K)
não continua escrevendo poesia naquela voltagem ???? ,
----- Sempre que voce pegar alguma de suas notas antigas... QUEIME-AS.


*

''LEMBREM-SE '' ----- implorei ---- ''DE TUDO AQUILO QUE EU DISSE NO SENADO IRLANDÊS DEMONSTRANDO UMA FINA COMPREENSÃO DE POSSIVELMENTE NADA. (SE UM HOMEM NÃO É CAPAZ DE SENTAR-SE CALMAMENTE NUM BANCO DO SENADO... COMO PODERIA ELE PENETRAR NA MENTE OBSCURA DE UM SENADOR ???


*

...e lá embaixo todos estavam tendo seu Palio
''Torre ! Torre ! Civetta!
e espero que não tenham destruído o
velho teatro
com restaurações e por giribizzi da última renascença,

dove à Barilli ???


*

---- Não ---- retrucaram. --- Esse calvário nós não desceremos dele '' ---- disse o prete
no maldito branco duro esperando o s cavalos
e a parada e o jogo de bandeiras
---- Non è una hontrada è un homlesso ''
explicava um experiente a um inexperiente.


*

A ''Osservanza'' está rachada
e o melhor de la Robbia reduzido à fragmentos
e perto de quê ???
da guerra econômica ???
Desde Waterloo,
nada.
São em identidade
mas não átomo por átomo.
Os saduceus dificilmente dão crédito
à visão do Sr. Eliot.


*

Curioso é que o Sr. Eliot
não dava tempo a ninguém.
Ninguém falava sua língua.
Séculos acumulados
para trazer à tona massas de algas
(e pérolas)


*

...ou palavras de volume similar
para serem rconhecidas pelos apelidos
---- Se tivessem bom senso
não comeriam os próprios manuscritos
nem os de Confúcio;
nem mesmo as escrituras hebraicas
larguem esse recipiente de bacon
contrato, W, 11, oh oh 9 oh
agora usado tbm como armário
ex 53libras peso bruto
rebento de eucalipto
---- Mas está onde ninguém pode alcançar,
como um gatinho sobre as teclas
órgão a vapor via rádio
seguindo o Hino da Batalha da República
onde o vagão de mel cessa de recender
e o nariz fica em paz
---- Meus olhos tem muito disso.

*

Agora não existem mais dias
e a água infiltra-se no selo das garrafas
até que finalmente a lua emerja
como um azul de cartão-postal

K.M.

Just as I used to say... --- Inovações históricas. ---Causas remotas... ---ÂNCORA FISCAL.

Just as I used to say...

As finanças gerais estão representadas por um fator Fi em que se incluem variadas operações. Há as manobras estritamente patrimoniais pelas quais buscam ganhos de capital através do mercado de bolsas, na negociação de ações de empresas contidas em seu portfólio e que encontram no market for corporate control um espaço apropriado de ampliação . Há aplicações em outros títulos financeiros, práticas de arbitragem em geral nos mercados de crédito e decapitais mundialmente integrados. Ocorre o financiamento a empresas vinculadas a seus networks técnico-produtivos, tais como fornecedores e cooperadores, no desenvolvimento de tecnologia.  As operações especulativas com moedas explicam em boa parte o  crescimento das operações cambiais além das necessidades meramente comerciais. Dedicam-se à montagem de esquemas de ''funding'' para seus investimentos que otimizem as oportunidades oferecidas pelo crédito  bancário , pelo mercado de securities  e pelos fiscos dos países para onde dirigem seus investimentos. As estratégias de depreciação do capital fixo tbm aqui se incluem , na medida em  que implicam a inserção, nos preços produtivos, de um componente financeiro específico. E finalmente , a montagem de esquemas temporais adequados , no plano das posições devedoras-credoras, ativas-passivas , segundo as oportunidades oferecidas pelos vários segmentos dos sistemas financeiros nacionais em que atuam e do mercado de capitais mundialmente integrado.

K.M.

Inovações históricas.

Ernest Chandler, em sua pesquisa sobre as grandes empresas modernas estabelece seis traços que constituem , segundo ele, verdadeiras inovações históricas no comportamento empresarial , das quais três  remetem-nos justamente à lógica financeira geral que nos ocupa aqui :''Dentre as várias mudanças recentes no crescimento , gestão e financiamento da moderna empresa industrial, , seis não tem precedentes históricos. Estas incluem : a adaptação a uma nova estratégia de crescimento ---- aquela de ingressar em novos mercados em que as capacidades organizacionais  originárias da empresa não oferecem vantagens competitivas ; a separação gerencial entre cúpula administrativa da corporação e a gestão intermediária nas divisões operacionais ; o amplo e continuado desapossamento (divestiture) de unidades operacionais ; a compra e venda de corporações como um negócio específico em si mesmo ; o papel representado por gestores de portfólio nos mercados de capitais ; e a evolução desses mercados de capitais para facilitar a emergência do que tem sido designado como um mercado para o controle de corporações . As três últimas representam para Chandler expressões das finanças como um fim em si mesmo, na estratégia das corporações, enquanto as três primeiras refletem um novo perfil de decisões competitivas em produção e tecnologia. 


K.M.

Causas remotas...

Os processos especulativos, geralmente se iniciam com a expansão ex-nihilo do crédito bancário . Os bancos criam moeda a partir de seus empréstimos e, após algum tempo , com o crescimento da demanda efetiva de mercadorias e ou ativos financeiros seus preços começam a aumentar. Este aumento de preços  propicia o aparecimento de novas oportunidades de lucro e atrai mais empresas e investidores. Assim instaura-se um círculo, em que os novos investimentos levam a aumentos de renda, que estimulam outros investimentos e outros aumentos de renda. Nesse momento, é muito fácil identificar a ''mania especulativa '' , quando boa parte do mundo parece estar louca, no sentido intelectual . Mas devemos imitar um pouco do mundo que temos diante de nós, ou corremos o risco de termos nossas vozes fagocitadas pela irracionalidade de seus processos. À medida que o BOOM especulativo prossegue, as tacas de juros, a velocidade da circulação da moeda e os preços dos ativos continuam aumentando . Em determinado estágio, alguns insiders decidem vender seus títulos e pegar seus lucros. Os preços indicam sinais de queda., podendo iniciar-se um (especula-se) período de dificuldades financeiras. Uma corrida por liquidez --- com consequencias deletérias sobre os preços dos ativos, das mercadorias e dos títulos. A liquidação pode ocorrer de forma ordenada, não existe nenhuma necessidade racional de ''pânico'' .Sempre haverá dinheiro suficiente. Calma. Apenas deve-se controlar a expansão do crédito. As outras causas são em geral incidentes que ''abalam '' a confiança do sistema, e projeta os receios dos investidores de forma desarticulada na tela. Deslocam-se das commodities industriais, ações, imóveis, letrasde câmbio, notas promissórias, moedas estrangeiras --- e correm de volta para a moeda corrente. Talvez não seja perda de tempo lembrar que os sistemas monetários não possuem ''âncoras'' , e que sua estabilidade depende da reprodução gradual do passado no presente, como forma de calcular e precificar o futuro.  A instabilidade é da natureza das economias monetárias e acriação endógena de moeda pelos agentes privados (bancos, empresas) constitui um modo de alavancar e prolongar a fase de expansão do ciclo, quando perspectivas de lucros crescentes sustentam a confianças dos agentes. Com perdão do ''prosaico'' , existe uma velha metáfora nos mercados financeiros que diz : Os bancos lhe fornecerão o guarda-chuva se fizer sol,  mas o tomarão de volta se começar a chover . Correntes do ''Mainstream'', os adeptos das ''Expectativas racionais : A NOÇÃO DE QUE OS MERCADOS DE ATIVOS SÃO COMPOSTOS, OU MESMO DOMINADOS POR ESPECULADORES INTELIGENTES, BEM INFORMADOS E COM BONS FINANCIAMENTOS, QUE FAZEM COMPLICADOS CÁLCULOS PASSO APASSO, NÃO É EXATA. ESSE NÃO EXATAMENTE O SEU ''MODO DE SER ''. 

K.M.

ÂNCORA FISCAL.

Outra circunstância recomenda de forma categórica a ênfase no ajuste fiscal. A maioria das estabilizações realizadas em condições de inflação alta e crônica resultou, historicamente, sobretudo em suas etapas iniciais, em significativa expansão da demanda agregada, especialmente do consumo privado, em resposta à queda do imposto inflacionário, à recomposição do crédito e outros fatores relevantes.  Muitas experiências históricas mostram também que uma expansão excessivamente rápida da demanda interna pode ter consequências negativas para o suposto programa de estabilização. Pelo menos a médio prazo, a forma mais eficiente de se conter a expansão da demanda ,dentro de limites consistentes com a consolidação da estabilidade, não é o recurso à valorização cambial ou à política de taxas de juros elevadas, mas sim a implementação de uma política fiscal rigorosa.  Deste ponto de vista, o ajuste fiscal requerido é, tudo o mais constante, tanto maior for o impulso expansivo desencadeado pela própria estabilização inicial no nível geral dos preços. E convém ainda frisar que a contenção fiscal é a forma de restringir a demanda que mais se combina com a preocupação de assegurar uma posição externa sólida ---- fortalecer a ''âncora fiscal '' é o que permite, em última instância, conferir uma base sólida à estabilização de uma determinada economia e libertá-la de qualquer perigosa dependência da valorização cambial e de taxas de juros internas excepcionalmente elevadas.

K.M.

domingo, 20 de janeiro de 2019

CINISMO

É cínico o estado daquele que, desiludido com boas razões , tem de reprimir, no entanto, a cisma a respeito da perda de orientações que foram outrora uma parte dele próprio. O cínico permanece fixado  em suas instituições pessimistas e eleva a realidade dolorosa à última instância. Diante dessa instância, ele justifica o oportunismo, e diante dela tbm  exige que os demais, que ele não pode converter ao cinismo, prestem contas em termos militantes. No entanto, a colaboração do cinismo muda junto com o declive entre ideal perdido e realidade. O cinismo dos anos 1970 é mais inofensivo e amargo em comparação com o dos anos 1920. Mais inofensivo, pois a revolta de 68foi mais real que as tormentas de aço de Junger . Mais amargo, pois o próprio ideal já era, com efeito, o produto de um ESCLARECIMENTO , já havia se distinguido  com vantagens, em todo caso, da substancialidade imitada de Gehlen. Nosso cinismo é a falsa consciência esclarecida. É a consciência infeliz modernizada, na qual o Esclarecimento trabalha, ao mesmo tempo com êxito e em vão. Ela aprendeu sua lição do Esclarecimento, mas não a implementou , e certamente não pôde implementa-la.

K.M. 

O problema da miséria humana geral alastrada

Em suas férias ele tinha visitado os bairros mais pobres e várias cidades e caminhado por uma rua após a outra, olhando o rosto devastado das pessoas miseráveis. Nas áreas miseráveis do East End de Londres ele ficou particularmente impressionado com a quantidade de ''deploráveis desgraçados subservientes '' ----- a curva de distribuição de Pareto era bem mais do que uma mera linha num diagrama : representava a miséria humana geral alastrada.  Várias décadas haviam se passado desde que a Manchester que Engels descrevera, mas as condições entre os pobres pouco haviam  melhorado. Com a morte de Charles Dickens em 1870, o populoso East End de Londres desapareceu  em grande medida da vista da chamada ''sociedade respeitável ''. Isso ocorreu de várias maneiras: segundo registros meteorológicos, o sol por vezes só era visível --- através do fog amarelo, sujo e sufocante ---- por um total de  cinco horas ao longo de todo o mês de janeiro.  A razão  por que os bairros sórdidos de muitas cidades no norte d Europa tendiam a se situar nos distritos a leste era que os ventos dominantes do oeste sopravam a fumaça de todas as chaminés domésticas e a fumaceira vomitad a pelas fábricas nessa direção .Só ocasionalmente um escritor estrangeiro penetrava nas ruelas escuras e apinhadas do East End de Londres ;  na década de 1870, o poeta adolescente Arthur Rimbaud ali se metia à procura de um antro de ópio qualquer do Limehouse chinês ; Joseph Conrad na década de 1880, a caminho do cais das Índias Orientais para pegar um navio ; Jack London vestido de vagabundo com um libra de ouro costurada dentro do paletó, por segurança.

K.M.

sábado, 19 de janeiro de 2019

MUDANÇA DE PÊLO, Segundo o Hexagrama 49 (KO), do I Ching

Movendo-se novamente para o ofício,
no impasse do calor inédito,o consolo
da tentação não resiste, e vem o
CANSAÇO, a OPOSIÇÃO. K ´UEI:
as forças combatem como Fogo
e Água, cada qual tentando
destruir o outro, mas no dia certo
lhe darão todo o crédito devido.
A mudança almejada é grave,
e a mirada perplexa, insuficiente.
Não é cômodo seguir olhando
tão fixamente, para algo tão
PARADO. Pare de olhar e,
após um momento, continue
movimentando-se por contatos.
Nem todos estão aptos para mudar,
somente aquele em quem confia o povo,
e somente no MOMENTO ADEQUADO.
Entender o desenrolar inerte dos balanços 
também dá prazer de vôo. O povo
bem orientado torna-se ALEGRE
com BOAS PROPOSTAS, 
e subjugado pela doce ferocidade
do alfabeto amnésico do TAO.
Os tempos mudam e, com eles,
suas EXIGÊNCIAS deslizam,
irredutíveis, dos olhos para
certas cores arquetípicas,
desfazendo certos obstáculos
a uma luz nova (ciclos cósmicos
e transformações sociais).
O Sábio organiza seu calendário
na sexta mansão de sua estirpe,
e imagine só que GRAVE:
conhecer mais algumas pessoas
e aprender como ajuda-las
balançando, por um instante,
a própria sombra, e alongando-a
com o Sol, e fazendo disso
uma sombra ainda maior,
em trânsito, de olho para olho.
Nove na primeira posição significa:
''envolvido em pele de vaca amarela
e evitando, por hora, tomar iniciativas'',
pois '' toda revolução acerta e erra,
conscientiza e se equivoca, e produz
milagres indesejáveis na hora errada e
chuva de confetes díspares e; enfim,
a Revolução também humaniza sua 
astúcia, retro-pedalando ao escuro
inicial, quando era ainda apenas
alegoria no alto-falante... LEMBRA?
A Revolução permanece, mas também
se vai sutilmente AL CARAJO''.
Seis na segunda posição significa:
''Uma grande mudança, só no
MOMENTO ADEQUADO. 
Nenhuma culpa. O mesmo silêncio
global penetra outras solidões,
acalentando mil anos de visitas
infrutíferas, com a calma completa
da raiz mais forte. Pressa excessiva
e desconsideração de cuidados
rompem a ligação subterrânea
entre os objetivos obrigatórios''.
Agora, olhe para trás e relembre
como se trabalha bem em
SILÊNCIO e ESCÂNDALO,
e como nenhum bloqueio
desmorona somente com
DESEJOS e CONGRATULAÇÕES.
TRABALHO SOBRE O QUE SE DETERIOROU.
É no dia que antecede a mudança
que se encontra maior credibilidade.
A clareza do Fogo (Li) e a alegria
da Água (Tui) podem trabalhar
separadamente, mas para pôr fim
ao estado de decadência, algumas 
vozes são (realmente) necessárias,
ou os objetos antigos continuarão
sua incessante trepidação
nos rostos atônitos dos homens.
Insisto: faltam recursos para
dominar a TORRE DE CONTROLE
e o tamanho da HORA
se vai acumulando na VERTIGEM.
Não se deve agir enquanto
se estiver envolto em pele de vaca amarela.
Nove na primeira posição e
seis na segunda: o MOMENTO ADEQUADO,
tão orgulhoso quanto um cepo,
revela uma indiferença fora de uso,
e a ilha inteira se move com seus bloqueio.
A invicta choradeira adverte para
um sabor de frustração imprevisto,
convertendo funcionários em estátuas
recém-inauguradas, sem terem ao que aderir.
Nove na quarta posição: ''Antes de
consultar o ORÁCULO, consulte o POVO!''.

K.M. 

GAMÃO

Tretas de grandes sensações,
como essa farsa, que apanha
e oferece o outro Face como isca
para os feirantes esgotados
e sua argamassa de confusão.
Agora há silêncio de escutas
transigindo tudo sobre o mundo
no mais completo sigilo. AQUI
largo mão do aperto, abrindo
um atalho no entulho e
estancando o excesso de
reparos com determinação elétrica.
Rolo minha mão para longe,
como ga-mão que sai na frente
(indisfarçável temor)
no antigo hábito dos dados,
que virou um vício, um JOGO
de ciências do Tempo
através das formas trêmulas
da Audição, que regula as virtualidades 
NA FONTE. Essa ''pala'' rearticula
todos os vestígios num retraimento,
uma recognição avant la lettre,
que pára o sentido em curso
com coices de quem espera
por algo maior. O Abstrato
bloqueia o registro, para que,
no espaço vazio, VENHAS,
e nas redes desse Poder
arrisque o pedido amorfo
da ACOLHIDA. Gota a gota,
algum deus insaciável (sange)
reivindica seu impreciso esquema
de leitura, incrivelmente fortalecido
nos desordenados extremos do PACTO.
Em sua contra-prova entrelaçada, a
FORÇA (de convencimento?)
aprimora sua dívida com os
esforços metamórficos do POEMA.

K.M.

O poema excepcional...

Forma parte da essência do poeta que em semelhante época só é verdadeiramente poeta aquele para quem a poesia e o ofício e vocação do poeta se convertem em questões poéticas. Por isso os poetas devem dizer expressa e poeticamente a essencia da poesia.

Nós, os outros, devemos aprender a escutar o dizer destes poetas.

O poema pode significar : o poema em geral, o conceito de poema, válido para toda literatura universal. Mas O POEMA pode (deve) significar também (e principalmente) o POEMA EXCEPCIONAL, marcado pelo fato de que ele só nos afeta pelo destino, porque ele nos poetiza no destino em que estamos mergulhados, o saibamos ou não, tanto se estamos dispostos a aceitar um destino dentro DELE ou não.  


Martin Heidegger

A sabedoria do Evento

Dispostos fundamentalmente na abertura para o evento (Ereignis) os futuros são homens determinados não pela técnica, mas pelo último Deus. Uma força corajosa de resistência ao silêncio abranda o coração na persistência do não querer. Para se encontrar inserido na disposição fundamental o homem deve se afastar voluntariamente do absolutismo calculador, tendo como meta alcançar um saber originário e verdadeiro, mas por outro lado inútil e sem valor aparente. O saber ligado ao evento e conseqüentemente causador do choque do ser (Seyn), para Heidegger, está absolutamente atrelado a consciência de sua história. Isto quer dizer que a partir deste âmbito histórico agregado ao saber questionador, se decide o amanhã no vigor da disposição fundamental. Entretanto, o saber histórico requerido para a melhor apreensão do evento não deve ser obtido através da constatação e descrição dos fatos, mas deve se portar como um saber ocorrido no próprio fluir da época em que os futuros devem interferir. Heidegger recupera a idéia de ocaso como um percurso em um abismo, transposto através da sabedoria do evento (Ereignis). O caminho essencial no ocaso para o futuro é tido como uma preparação ao vindouro. É na silenciosa contrição do escutar poético em que vigora a decisão para se lançar ao princípio deste percurso. .

O caminho dos futuros permite reconhecer a falta dos deuses e a ameaça constante à existência como adversidades a serem superadas pela capacidade de questionar essencial no saber do evento. Desta forma, o ser (Seyn) estaria ainda distante, pois com a chegada dos futuros, um período de adaptação é necessário para que os homens entendam a gravidade desse novo pensar. Sobre o ocaso transpassado pelos futuros, Heidegger afirma na obra Contribuições:

Los que van-al ocaso en sentido esencial son aquellos que pasan inadvertidos por lo que viene (lo venidero) y se inmolan a él como su fundamento invisible venidero, los encarecidos que incesantemente se exponen al preguntar. (HEIDEGGER, 2003b, p. 319).

Os futuros atravessam o caminho na posse da disposição fundamental e suportam o choque que um novo modo de pensar proporciona. Isso se mostra mais acentuadamente quando o homem percebe se tratar de uma intervenção onde o propósito maior é preparar o solo para a chegada do último Deus. A configuração tradicional da existência provavelmente sofrerá alterações com a chegada definitiva dos futuros entre nós e a mudança mais radical se colocará acessível ao mais puro pensamento. Esses arautos da aurora do amanhã trarão a linguagem poética novamente ao âmbito do cotidiano, assim como também junto consigo caminhará o último Deus, ainda indefinido quanto à maneira de conviver junto aos homens, mas certamente importante na conjuntura de acontecimentos previstos por Heidegger na virada do pensamento ocidental.

Os futuros atravessam o ocaso e devem sempre nutrir consigo o pensamento questionador. A intranqüilidade de não se encaixar numa sociedade viciada está essencialmente ligada à sabedoria do evento (Ereignis), responsável pela simples intimidade com as coisas, pela consciência do débito e do abandono do ser a partir da configuração presente no período da técnica moderna. A pergunta pela essência da verdade deve ser instigada ao próprio espírito daquele que deseja se preparar melhor para a meditação acerca da experiência poética como nova possibilidade de habitar nesta terra. Em Contribuições, Heidegger afirma explicitamente que a busca pelo senhorio do saber através da postura silenciosa resgata o ser do esquecimento e o recoloca nos arredores da verdade, onde a relação originária com as coisas possa fazer-se presente com maior intensidade. O silêncio privilegia a escuta, pois no novo paradigma colocado pelos futuros o fundamento e o abrigo determinar-se-ão a partir da reflexão poética. Na era da técnica, privilegia-se a informação rápida, momentânea e descartável, pois o mercado urge se renovar tendo em vista a obtenção de lucros. Na era do último Deus, privilegia-se a celebração austera, sem interesses e condizente com a verdade mais profunda e imutável tendo em vista sabedoria acerca de nós mesmos.

Obviamente é muito difícil, em uma primeira investida, pensar coerentemente em Deus, nos futuros e mesmo no advento de uma nova aurora histórica para a humanidade. Todavia, o que Heidegger pretende ao se colocar no encalço da poesia é, primeiramente, fornecer questionamentos para que se dêem outros modos de lidar com o mundo, e assim preparar o homem para o choque do ser (Seyn). A forma como a poesia se comunica com o mundo se dá sempre a partir de uma perspectiva originária e se empenha em configurar o retrato de um povo histórico. O fundamento de um povo reside na relação que têm com as coisas ao redor e, principalmente, com Deus. Toda a compreensão de um povo, a partir do olhar poético, deve pertencer historicamente a uma época como uma mensagem que se destina ao futuro. Essa mensagem será compreendida melhor quando o perigo da técnica já estiver em um patamar superior e o homem esteja compenetrado na preparação para a chegada do último Deus.

Os futuros trarão consigo a abertura para o ser (Seyn) conviver em meio à totalidade dos entes, expondo os valores da unicidade, singularidade e criatividade.

O último Deus se apresentará finalmente na simplicidade de cada coisa e na relação honesta dessas coisas com a terra. Os futuros devem estar atentos à região onde se encontra a essência da divinização, pois dela extrairão o saber que promoverá o desvio ao modo calculador, não abandonando por completo, mas construindo junto a ele uma obra onde o oculto permanecerá e a vastidão do evento (Ereignis) se fará presente como abrigo da verdade. Hoje, assim como no tempo de Heidegger, existem poucos futuros em vigor. Esses poucos carregam consigo uma espécie de senha especial que guarda os portões do amanhã. A senha é a certeza invariável da chegada do último Deus. A senha está intimamente ligada à sabedoria do evento e a disposição fundamental dos futuros. A certeza proporcionada pela posse da senha haverá de estar sempre aí, como um sinal mostrando que todas as coisas se apresentam numa divinização espacial. Os detentores da sabedoria do evento (Ereignis) estão sempre inseridos na disposição fundamental, ou seja, em todos os instantes e em todas as circunstâncias o ser (Seyn) se quebra em um mistério paradoxal e insolúvel. Após o choque, o ser (Seyn) se apresenta revelando e encobrindo uma verdade incalculável.

Os futuros ainda estão adormecidos para a maior parte dos homens, hoje ainda mais escravizados pela técnica devido à internet. Porém, a consonância se põe à frente dos mais ousados investigadores. Para estes, a solidez do mais íntimo temor se transforma num espaço singular onde reverbera o ser (Seyn) e também se mantém retido o Deus. O ser-aí é o ente que proporciona o movimento de todas as referências e somente ele habita junto à linguagem num mundo repleto de significados. É sempre a partir do homem que um período histórico pode degringolar e um novo surgir, pois nas mãos dele está o próprio destino. O destino é um envio que se põe em marcha quando a terra se encontra em perigo. O envio é um recado celestial que penetra na escuta daqueles mais familiarizados com a relação entre terra e céu. Os receptores do envio devem utilizar-se da linguagem e criar, a partir dela, o retrato de seu povo para só assim propagar a sabedoria do evento (Ereignis). O destino dos futuros é conduzir a humanidade rumo ao choque do ser (Seyn). No insólito espaço rasgado pelo poeta se encontra a essência celestial de Deus bem no interior do ente: radicalmente o sentido contemplativo arraigado pela poesia e também da sabedoria ancestral adquirida pelos futuros e perpetuada através de uma obra que não visa obter nenhum resultado prático. O sentido interno do ente é a senha para se confirmar a chegada do último Deus. Por trás de toda a terrível armação que nos impede o pensamento, devemos descobrir a simplicidade essencial de tudo ao nosso redor e o mundo se apresentará novamente na claridade do evento (Ereignis). 

K.M.