domingo, 30 de junho de 2019

TRANSCODIFICAÇÃO

Apenas a TRANSCODIFICAÇÃO nos liberta da sentença de prisão perpétua no comentário e sua biliosidade desesperadoramente repetitiva, e desse modo surge a exigência de invenção de habilidades completamente novas para lidar com essa ''libertação'' (no sentido forte do interpretante de Peirce). O fato de que ''efeitos ideológicos imprevistos'' podem se derivar desse novo mecanismo é algo, por sinal, bastante previsível, levando-se em conta a identificação popular pós-moderna entre Mercado e Mídia. O mais divertido é que as novas miragens ideológicas são produzidas a despeito do aparato corrente, em vez de graças a ele. A reificação do fato, , para não falar em sua transformação em ''mercadoria'' (veja sua judicialização financista na proibição de ''clippings'' dos jornais impressos), nos proporciona um outro código para caracterizar o destino pessoal ou sorte do discurso teórico, quando ele se vê transformado na filosofia pessoal ou sistema de alguém na guerra discursiva incessante que, no fim das contas, acaba perpetuando positivamente o direito de todos os envolvidos.

K.M.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

GLÓRIA!

De hecho, de la forma más universal, aisladamente o en grupo los hombres se encuentran constantemente comprometidos en procesos de gasto. La variación de las formas no entraña alteración alguna de los caracteres fundamentales de estos procesos cuyo principio es la pérdida. Una cierta excitación, cuya intensidad se mantiene en el curso de las alternativas en un estiaje sensiblemente constante, anima las colectividades y las personas. En su forma acentuada, los estados de excitación, que son asimilables a estados tóxicos, pueden ser definidos como impulsiones ilógicas e irresistibles al rechazo de bienes materiales o morales, que habría sido posible utilizar racionalmente (según el principio de la contabilidad). A las pérdidas así realizadas se encuentra unida -tanto en el caso de la “muchacha perdida” como en el del gasto militar- la creación de valores improductivos, de los cuales el más absurdo y al mismo tiempo el que provoca más avidez es la gloria. Junto con la degradación, la gloria, bajo formas siniestras o deslumbrantes, no ha dejado de dominar la existencia social y hace imposible emprender nada sin ella, a pesar de que está condicionada por la práctica ciega de la pérdida personal o social.

LA NOCIÓN DE GASTO
Georges Bataille

Sem título

Não colocar a questão sexual
no microondas da sua avó, e
entrar no banho, sonhando
os medos que te excretam
cortêsmente, em público.
KM

GENEALOGIAS

Antes de mim outros poetas,
depois de mim, outros e outros.
E não bastava ser poeta?, que
a Poesia acontecesse, deixando
atrás cidades vencidas, resistindo
inutilmente? Esporas de pensamento
abrasando em cada bota do poema,
suando sangue no escuro cambiante.
E terçã na rede, enquanto o pós-futuro
obstrui a resignação da bússola, bem
fundo, em subterrâneos condutos.
Mas deixa de tanto sarcasmo!, isso
não calará o prazer dos desanimados
--- negociar-se-á em voz baixa, um
novo governo para os retirados.
Abriremos a janela decisiva que,
mansa, espera pela morte insolente;
demoliremos a memória do mérito,
dos desafios, da claridade e do caos,
e deixaremos uma mínima coragem
com que recomeçar a marcha, até
os cafundós da moral elástica ---
a meada toda de tétrica conjura.
É preciso, ah! é preciso urgentemente
a presunção do número, do desplante
que o olho da Eternidade apodrece
com a vaidade do golpe. De quadros
roubados tudo nasce, mas todos
esquecem: o poeta é maldito, anda!
Cais do Porto: Recife finalmente!
Acabaram-se os nomes ilustres
e as raízes, e os livros fundadores,
indiferentes, estocaram seu cotidiano
numa tenebrosa, atômica semente.
Ao adentrá-la de novo, corajosamente,
o Poeta, réstia tântrica de nada,
muda de nascença, e acende a Luz
das asas sujas de Lúcifer, lá fora,
na catástrofe da Noite Eloquente.

KM

terça-feira, 25 de junho de 2019

CIRCUNSTÂNCIAS

Como uma mulher da plebe passando na rua com porte de duquesa, seu senso amplificado de ego ilustre em solilóquio. Toda aquela trama engrossando de novo: a certeza fazendo-a bancar a doida sempre que valesse a pena o resguardo do quarto, numa atmosfera típica de teatro. ---- Ah, K, tudo aqui me agrada: relevo, cor, ruído e a própria respiração do quarto. Esses pequenos hotéis que estragam tão logo o proprietário ganhe o suficiente para torna-los parecido com seu sonho anti-séptico. O princípio da novidade no primeiro plano da mente, aqui, cálido platô de doce aconchego e intimidade (.) ----, Joana disse. Sentia-me escorregar por um declive de 48 horas, na caverna fria e solitária onde caíramos. Coveiros enterrariam Hamlet de noite, mas a velocidade da droga impediria sua fixação em palavras. A imagem reformulada de Joana, agora viciada em remédios, tornara-se um tópico potencial de tato sagrado. A loucura em Deus como conhecimento-direto separado de tudo. A vidraça roxa ensolarada, a dois palmos do meu nariz, lembrava-me do jogo de luzes contraditórias que na prática meditávamos. Altar macrobiótico e ocultismo prático, em versos. --- Contar o quê, além disso ? Não sei direito, contar a alguém em particular, ou contar como quem escreve um livro? Agora, liberto desses compromissos de cultura, mídia e política, volto a respirar o ar de museu de tudo, das ruas inabitadas dos encontros entre mentes, onde a abordagem é um confronto com o Eterno Retorno, seus prefácios de conversas noturnas, na voz de K. Houve uma época, certamente, em que esta vida perdeu sua habilidade de se compor (começo da Era Moderna), e tinha agora que ser ''trabalhada'', industrializada, com todos seus receios rotulados ''empiricamente''... e muitos de fato fizeram disso seu objetivo, deslumbrados com as miragens que uma mínima recompensa insinuava. Digamos que, do tempo de Maquiavel ao nosso, essa arranjo tem sido um projeto muito mal orientado, que exige uma luta suja para retificar-se (.) --- ,disse, e acendi o cigarro, lembrando o aeroporto limpo e sonâmbúlico da véspera, onde me despedira das leitoras. Perguntara a elas porque estavam lendo aquilo, que eu havia escrito, e a lucidez da comédia subitamente aumentou o espetáculo. alguém as treinara a ver ídolos, ou sub-celebridades eminentes, como fonte de tiranias alienígenas. O véu ilusório que se usava para prosperar entre a audiência já não era o que costumava ser, estava degradando-se depressa, sob a pressão da empiria técnica, sem uma grande abstração coletiva para servir de motor. A verdade atrás do exato, sua consistência enunciativa específica, sua gama de signos à mostra, auto-cambiantes, PERDERA-SE NA NOITE DOS TEMPOS! ---- Sei que mudei e mudo sempre, Joana, mas daí chamar-me traidor, demente, é histeria; embora não autorizado a radiografar explicitamente o pensamento de Merleau-Ponty, recolho de seu último livro esse aforismo: ' La peinture ne cherce pas le dehors, du mouvement, mais ses chiffres secrets''. Meu exterior é meu interior, também ; a extensão, minha profundidade. O passeio de minhas hecceidades pelas ruas realiza-se, mudo ou eloquente, único no mundo, com a força de uma leitura tradutora, com audiência e taumaturgo inventando a todo instante ''ses chiffres secrets''. É necessário que a Arte sirva para algo, não? Que produza virtù, virtudes, virya, amor à Arte e à Musa, mas também má-consciência, ou consciência da má intenção que as cerca. A Loucura vem e vai, nos impedindo de brilhar em logística e relações públicas, mas mostrando-se o melhor tipo de guarnição, de albergue, em tempos de penúria, contra a crise dos westerns de ingovernabilidade geral. E não estaríamos subestimando a América se pedíssemos, através de um catálogo do Sears Roebuck, um Príncipe tipo K para governa-la. Histórias militares e memórias de guerra na ponta da língua, esperando a provocação do interlocutor. Eu conhecida de cor também Wheeler-Nennett, Chester Wilmot, Liddel Hart e todos os generais de Hittler --- e também Winchell, Earl Wilson, Leonard Lyons e Red Smith; e passava rapidamente dos tablóides ingênuos de economia ao General Hommel, e de Rommel a John Donne e TS Eliot, para nuançar mentiras passageiras entre os painéis das Bolsas de Valores. Às vezes, parecia conhecer fatos estranhos sobre Eliot de que ninguém tinha conhecimento, e usar isso como artifício para fazer a terra tremer. O que não faltava em mim era intriga, alucinações políticas e discórdias literárias(.) ---, disse, minha teoria da distorção desvelava, fundia, era inerente à minha poesia, assim como aos quadris de Joana, em sua louca yoga de versificação. Aquele resto de roupa passando pelos seios nus, deslizando pelas nádegas curvilíneas --- então, pouco solene, o esboço do falo erguido, a nota aguda de sua cintura na corda confusa de nosso Ser. Acordei no dia seguinte entre quatro paredes desconhecidas, com gosto de papéis de música na boca. O tempo estava BOM, o céu claro. Puxei as cortinas, que impediam a visão dos detalhes, e deixei-os entrar. Mais imagens estranhas da noite passada, de restos de súcubos emergindo das primeiras conversas, nos telefonemas de conveniência; e, depois, na praia, no carro. Energia comida pela instalação forânea na linguagem. Advertências como gotas manteiga pingando numa panela enferrujada, formigando o veneno egocêntrico do sangue, ativando uma gosma predatória dentro da coluna. Manchas de energia borbulhavam no ar, saciadas, a alguns centímetros da minha testa, e círculos inorgânicos concêntricos desciam espiraladamente e evaporavam contra meu rosto. Minha metafísica pessoal se metabolizando no ar da manhã, procurando um bar aberto para forçar-se ao mesmo raio de onda vazio e pre-existencial, da noite anterior. No bar, o poema, escrito havia dias, chamava-se CIRCUNSTÂNCIAS, e sua mensagem era clara: ''A imaginação não deve enfraquecer''.  Sentimentalismo, talvez, mas também considerações bioquímicas, advaita-vedantas, nagualistas, políticas e econômicas, em último caso, se re-derramando em minha mente:


CIRCUNSTÂNCIAS

Circunstâncias: garimpo, no Pará.
Pensando na draga motorizada,
coberta de musgo, comendo
arbustos e destroços aquáticos.
Lama de mãos ensanguentadas,
de esteiras de tratores anfíbios.
E um diamante minúsculo, auto-
-diamante, auto-reflexo, no fundo.
O reflexo de cada planta sangrada
na água, e a orelha arrancada de
alguém na balsa, pingando no rio.
Pão seco no bolso da calça, fome.
O negro pijama pagando prostitutas
com cocaína de amuletos, macumba.
E mercúrio envenenando palavras
no ar: AMOR - MERDA - MAMÃE -
ME ENTERRE BEM FUNDO -
e bombas d´ água protegidas
por pneus e sacos de farinha
de embalar pedaços de cadáveres.
Sol sobre poeira vermelha, sobre
fumaça azul. Sol filtrado por
cinzas silenciosas, auto-poiéticas.

KM


segunda-feira, 24 de junho de 2019

A PAZ, Segundo o Hexagrama 11 (T ´AI) , do I Ching

O Receptivo tende a descer
e fundir-se às novas influências.
O princípio luminoso está dentro,
em ponta de agulha, porém acessível
dentro de cada um. Numa posiçao
decisiva, a Escuridão exerce influência, 
mas de fora. Enquanto maus elementos 
mudam para melhor
e as sombras se submetem
na agulha dos instantes, 
o corpo se resguarda
de tais influências, 
e se governa tantricamente
numa auto-apropriação Bon.
 則 zé: “Por isso, então, assim”. 
是 shì: “É, idêntico (cópula); correto”. 
 交 jiäo: “Relação, negociação; cruzar”. 
通 töng: “Mover-se livremente sem impedimento; 
passar através; comunicar”. 
O Nove na segunda posição significa:
''Pujante profusão de fenômenos.
Ampla influência de propósitos.
E tbm: Suportar gentilmente
as pessoas incultas,
atravessar o rio com decisão,
não negligenciar o longínquo,
NÃO PRIVILEGIAR NADA ---
assim, diz o Sábio,
até mesmo o material improdutivo
pode encontrar sua utilidade,
até os escrúpulos mais cerrados
podem afastar os partidarismos
em horas de mutações inóspitas.
Então, segue-se à decência
do Mal controlado, certo estado
de atenção total. 交 jiäo: “Relação, 
negociação''. SEIS na quarta posição:
''Ele desce voando sem se vangloriar.
Junto aos outros, sincero e sem malícia.
Sentimentos profundos emergem
sob a pressão as circunstâncias.
A espontaneidade completa assim
alguns decretos da Fortuna, im-
pedindo de se usarem os exércitos.
裁 cái 'dividir'. Essa glosa está
成 chéng: “Realizar, completar, aperfeiçoar, conseguir”. 
yí: “Correto, adequado, justo, arranjar; conveniente, colocar em ordem”. /
左 zuô: “Esquerda”.  右 yòu: “Direita”.

KM

domingo, 23 de junho de 2019

ALICERCES

Para conquistar Aquilo, aprendera
tudo antes do tempo: conservava
sempre o equilíbrio, e com cuidado
avançava até a borda do assunto,
e mesmo um pouco mais. Depois
voava para frente, como um zumbido
abrindo caminho nas reflexões,
acelerando sonhos em trechos
sem passagem, onde o rosto 
queimava e se arrepiava 
contra as teias de todos os ardis.
Um terceiro olho aberto
logo indicava o lugar certo
no Céu, onde conversar:
num templo ou numa
jaula igual a dos advogados
que perscrutam o diabo sob a lua ---
a única brincadeira que podia
brincar sozinho, eu montava-a
repentinamente, na frente de todos,
inclinado ora à esquerda, ora à 
direita, para torna-las ainda mais 
retas e escuras. Imaginava o Balanço, depois...
a vida como numa revista,
 Poeta graduado dentista,
atleta arquimago do choque.
Periodicamente, o Sol
soltava as cascas d´Aquilo,
fazendo surgir a Verdade
e o Bom Senso, e uma
vantagem talvez oferecendo.
O poeta querendo ser o Estado
nesse ponto de ebulição
pouco frequentado das estradas.
Querendo suspirar sua história
com delirantes ares de veto.
Era forte, realmente, mas
nada tinha de seu. Esperava
por um ambiente mais amplo,
onde o desencontro dos olhos
voltasse a um sono longo e humano,
descansado de toda telepatia de guerra.
A essência do Inferno, pensava,
estava na noite, na forma que o
sonho iria tomar, nos abalados
alicerces da noite, onde mentiras
alimentavam uma sucessão
de alternativas ferozes,
sem discussão prévia.

KM

JARDIM SONÂMBULO

Essa ternura suspeita
oculta na brincadeira,
essas palavras flagrantes
que eu ocultava na boca,
cuidavam de gelar meu sorriso.
Era um pedaço de Nirvana
cheio de choques de entendimento
que logo se confundia no tédio,
camuflando seus frios e seus fogos
ao substituir-se por um conto ingênuo.
Na névoa, algo anunciava o
afastamento do roteiro geral e,
então, Oh conto ingênuo(!)
conto auto-biográfico(!),
como isso era vulgar
entre as pouquíssimas coisas da minha vida.
Equacional e altivo, eu me ria.
Nada mais. Ah, mas recordo que
contra todos aqueles danos
ainda sim escrevi o livro: empós da amada,
e não amei uma só, mas cinco ou seis.
Ao olhar agitado, a ação do vento
oferecia seus luzeiros, escondendo nomes
e perfurando a noite em que me encontrava
para arder o prazer da minha pena.
As mãos iluminando no semblante
o corpo agilizado de carne e sentimento,
dessedentando seus jardins sonâmbulos,
seus lunares truques de imaginação,
para ver se em seu ser
continuava cravando nela o desejo,
condensando nela
todo aquele desejo sanguíneo
de adorar sua distância viva.

KM

PRORROGAÇÃO

Como certas coisas perduram!
Mas esta, ocupa já muito espaço,
e como eu disse: é atroz prorrogá-la.
Enquanto pesquisava a madrugada
sua cadeia bruxuleante de enganos
tornara-se um vapor petulante,
como a respiração de um boi.
E cheguei a esse ponto:
''Não, não sombreie minha mente!
Você me desnorteia. Irei até você.
Deus, que mulher!
Ajude-me então''.
Como única resposta,
os dedos dela mexeram no trinco,
na ilimitada idade das lembranças.
Mais tarde, minhas palavras noturnas
pareceram todas ofensas, ofensas
sobrenadadas por dúvidas
num sombrio rincão de suposições.
Eu observava o sal desta aflição,
vencido na vida como um espectro,
mas vivo na palpitação alegre da Luz.
Vazio das ilusões de erro e acerto...
e o mundo é o Mal, sedento destas.
O azedo semblante relacional
de assustado e hostil
à sombrio, ganhando tempo
com amenidades providenciais.
Enrijecendo o pescoço e guardando silêncio,
eu recusava qualquer ajuda, e a uma
boa distância, já não podia ser notado,
o que parecia-me um bom Caminho.
Repassava na mente aquela lição
que jamais contara a ninguém.
No entanto, todos sabiam
de minhas secretas ânsias meditativas,
do meu escutar atento, de meus prolongados
jejuns e tantras --- e traiçoeiramente todos
me sentiam ferver, estrelando o novo contentamento.
O apaziguamento da mente pela Presença,
o breve contato com a energia superior e
a ansiedade suprema de calar-se, depois.
Na passagem ao acremente hostil e mudo,
do PRATYEKA BUDDHA,
o pressentimento se confunde com a maldade.
Alguma coisa que não precisa ser merecida
logo apresenta-se como dom quintessencial
e assim resume as ansiedades da plenitude.
E talvez o Poeta deseje até ser melhor
do que aparenta, nessas ocasiões.
Apreende com facilidade a sensação 
de pensar muito tarde 
no que era certo dizer,
e alcança o conhecimento-direto,
enxerga os pensamentos dos outros
telepaticamente, e deixa fluir seu Eu
no meio do burburinho auto-reflexivo:
''Como ele mistura tudo!
Parei para olhar duas ou três vezes,
fazia-me sentir esquisita. E agora
eu queria saber se ele falava dormindo.
Me disseram que não. Mas o jeito como
misturou aquilo tudo com outras coisas
me aflijiu; sua educação, sua arrumação
da carga no trem em movimento, e aqueles
argumentos que usava para se manter longe,
o tom cinzento de sua vagarosa marcha
no seu lento desejo do Deserto, brilhando
numa Visão ascética da Colheita, e depois
o riso adoidado que o Dinheiro
não atraía mais, operando aberturas 
na linguagem e invocando  destruiçoes
na sintaxe das negociatas". 
Aludia-se ao poeta apto a reverter 
todas as representaçoes em curso, 
a afirmar a Diferença no Estado,
encenando o mundo das apreensões
numa viagem livre de rótulos,
poética-poiese
do eterno retorno. 
E o apelo à Política, que se preocupa, 
 e já solicita no mundo 
as formas de sua própria representaçao
em meio às representações do Poeta.
Celestes e carnais pedaços
do Poeta, espalhados numa
selva de ressurgimentos parciais
e ficções nos olhos das mulheres,
onde o politicamente correto se trai.

KM


sábado, 22 de junho de 2019

LATIDOS UNILATERAIS

Prorrogar essa coisa é tão atroz: 
os arrependimentos, os escrúpulos
que vem tramando, com ódios
antigos e elegantes, uma venturosa
barbaridade de latidos unilaterais.
O fim dos tempos prorrogado
no calcante, num sonho que talvez
não nos peça muito: outro acaso,
outro nunca, outro sempre, outro
modo de ''quitarle a la hembra
su alcachofra de ropas''. Outro
fogo, outro assombro, outros
escravos e donos, outras pro-
pensões, outros látegos. E
o inviolável direito aos instantes
de leitura lenta, enlevada
por um alcaide já blasé.
Abaixo do mundo, nos
subterrâneos imprescindíveis,
fecho a cara, pouso na chapeleira
meu Gelot --- presságio escuro no ar.
Acionistas cobrando dividendos
em meio a espectadores profissionais,
viciosos de lucidez e instalações
incomovíveis, no egoísmo-inseto
da primeira fila, Momento de dizer:
''Caracóis de medo receando
a garantia de ressurreição,
a voz amena da ameaça sem assunto''.
Aceitar-se-á também a crônica?
O Bom exemplo?, a imprevista
recovenção dos ecos (?)
Musa, vais ao teatro? Assim(?),
com essa mirada de desprezo(?),
cismando o que não deve
sem latidos --- os sonhos passeando
sem programa, sem luz
na mente rasa, sem silêncio
ou desfrute de espantos.
Meu espanto, porém, 
Musa, NÃO NOTES!
Que entre no teatro o amor,
o ódio, a voz, os gritos,
que venha a tristeza
com seus braços abertos,
e a ilusão com seus sapatos novos,
que venha o frio germinal e honesto
--- assuntos e mais assuntos
a distrair-nos em tom de brincadeira,
devido à forte taxa aduaneira ---,
que venham mais rancores na névoa,
e os verões de angústias calcinadas.
Que entrem a raiva e su ademán oscuro,
que entrem o MAL e o BEM...
(coisas ainda haverão de mais tomo:
aquilo que media, entre um e outro,
o pêndulo da VERDADE, entre incêndios
e mulheres de chuva sem história).
Nosso palavreado alicerça o time,
mas alarma o discurso --- necessária
confusão de boas vindas e dúvidas.

KM

sexta-feira, 21 de junho de 2019

MANTRAM, PALAVRA MENTAL

Cerceado por todos os lados, mas na barcaça ainda (piccioletta), ali na popa! Possivelmente, ela havia pressentido alguma quimera feminina, digamos: que eu poderia sentir-me carente de uma hora para outra, ou desenvolver forças psíquicas extras, derivadas do contato prorrogado voluntariamente com o desgosto. Nem tanto, talvez. O fato era que Joana se sentia, diante de mim, naquela sala, cada vez mais fascinada pelo efeito que a proximidade daquelas verdades causavam em mim, sua ameaça suspensa. Eu era realmente tão conservador como dizia?, perguntava-me... certamente não estava disposto a mudar o tempo todo minha consciência, meu jogo de armar, enfim, os desígnios de minha busca por formatos de coabitação mental. ---- Você está com a idéia oriental sobre dinheiro na cabeça o tempo todo, K (ela disse) e, ainda por cima, vivendo numa parte do país muito conservadora nas atitudes, e num meio social adverso à seu requinte narrativo e espírito prático, assim como à dimensão utilitária que seus retratados buscam, no compasso da mídia e da ciência espiritual. Seja como for, a Sabrina não sente tanta atração por essas garotas totalmente liberadas que você enfiou na novela. Prefere amigas íntimas, como eu, héteros, e engana com sua aura meditante ''bem Baudelaire'', como ela disse outro dia, rindo da minha cara... claro: ela é doida, como voce a descreveu , algo no que concordamos. O narrador, K, voce sabe, é necessariamente um homem capaz de aconselhar, até mesmo quando a experiência parece incomunicável. Mas seus conselhos de narrador são menos uma boa notícia para seus leitores, do que um narcótico pesado para seus personagens (.) -----, conclui ela. Tantos mares obscenos! Mas hoje o mar da tela, pelo menos à superfície, estava puro e polido. A imagem da ilha ao centro que, atraindo a navegação do poeta, fecundou um completo agenciamento de literaturas, chegando ao extremo requinte poético através da mentira. A mensagem do vento, as tatuagens do mar, transformavam meu silêncio numa estrutura, num posto de observação alerta. ---- Nada (eu disse à ela, depois) se afasta mais da intuição intelectual do que o racionalismo; logo, de acordo do Ferenczi, o racionalismo representa o apogeu da loucura. Como exemplos, basta pensar em como Newton ficou louco, ou no comportamento sub-reptício de Nixon, na política externa. O resto se resume apenas a fazer render a superstição popular. O oráculo ambíguo de K!, influindo em todos os setores da sociedade. Certamente, neste ponto, é que meus pensamentos começam a dissolver-se, e eu escapo pela tangente, embora o coração continue batendo forte, como ondas de desejo quebrando contra corpos fantasmagóricos de mulher. Um peso enorme, então, parece desabar de cima de minhas costas, como se os pregos que prendiam Jesus na Cruz se afrouxassem de repente, e seu cadáver despencasse no chão violentamente, e ficasse ali, inerte, rodeado de visões do Paraíso (.) ---- sentia que Joana queria responder, mas uma verdade enigmática dentro dela, que antes eu associara à falsidade feminina de praxe, de um instante para outro revelou-se um prodígio de controle mental. A pitonisa em transe? Há alguns anos, ainda podia ser vista de modo idêntico, sentada em algum pequeno café de Montmartre, como uma princesa oriental, pálida, de olhos línceos. Sua boca, uma boca que fazia pensar em beijo o tempo todo, e tbm uma boca com quem falar a respeito, antes e depois, para formar, com palavras suadas, um monumento simbólico do ato sexual. Sua mão, um ninho quente de carne e unha, onde aninhar qualquer parte de mim. Meu tórax , encostado nas costas dela, mergulhava-me em sua cintura antes de subir, como uma gota, para dentro de um beijo salgado e bom. Sua energia definitivamente resvala em mim sem desgastar-se: em torno de sua garganta, em volta dos seus cabelos, o suor aglomerava-se, brilhoso, e seu pulso era um olho sanguíneo que se desdobrava dentro de mim. Como ficasse molhada depressa, desabotoei-a totalmente, sentindo a presença quente da proteína e do mel se formando no meu órgão genital. A cama balançou bastante durante meia hora, e depois, percebi uma pureza a mais em mim, como uma nova forma de amor recolhida de seu subconsciente, do fundo de nossos olhos para dentro do quarto. Erguido aquele ponto suspeito para a Luz, produziu-se a tênue impressão linear de uma nova palavra mental. Um mantra de indecidíveis. Sim: uma palavra como UMBIGO?, ÚTERO? Qual seria esta palavra, agora? Eu já tinha tomado três martinis e estava suando mais. Extinção social de anseios? Anonimato romantico? Idílio indonésico? --- Minha avó se correspondia com o gerente do banco por versos, acredita? ---, eu disse. Sorridente, agora, ela recordava algumas daquelas maldições dos jornais contra nós, acelerando temas industrializados em nossa cabeça. O que tínhamos lido ontem, pensávamos entender somente agora, forçando aquele tipo de ''fala de exceção''. ---- Empiricamente, está verificado que uma atmosfera devocional aumenta a eficiência, intensifica o espírito de cooperação e de abnegação (eu disse). Mas no Moulin Rouge só se entra com o colarinho bem engomado, acompanhado por Sabrinas de todo tipo. Por isso, procurei um psiquiatra antes. Disse à ela: ''Doutora, eu realmente não me sinto presente quando tenho que cooperar com o próximo, sabe? Cooperar diretamente. o contato com o próximo lança uma luz fragmentária nas minhas idéias, e logo um vírus se instala na minha linguagem. Sinto falta dos moldes ideais nos quais meu grupo de Purchas se desenvolve relativamente mais fácil. Lamento muito isso, e até creio inaceitável. O ágape dos primeiros cristãos, a célula comunista, o lavabo conspiratório... moldes nos quais ativei e atualizei minhas melhores máscaras '' (eu disse) Sentia-me, certamente, o animal de estimação dela, rebaixo à condição de cobaia a cada contestação, um bicho levantado entre suas mãos como uma porção dupla de Glace Vanille, que ela desbastava lentamente com lambidas, hein? Ah, bom... a doutora continuou: ''Assim, K, você apenas se cacetearia em breve. A travessia tornar-se-ia enjoativa, pobre de revelações vivas. Procure ouvir mais atentamente o que digo, certo? Tudo flui. Seja fluido. Seja fluente. Não incorpore regras rígidas ou obsessões. Rompa com as rotinas. Assuma a responsabilidade. Adote a morte como conselheira. Não-faça. Aprenda a rir de si mesmo. Não fume nem se intoxique. Não beba álcool ou soda. Regule sal e gordura. Seja frugal. Beba bastante água. Coma vegetais, frutas, legumes, etc. Não esquente com as coisas. Não tire conclusões. Não se guie pelas opiniões das pessoas. Não desperdice sua energia. Leia sempre. Escreva sempre que puder. Recapitule. Ensonhe. Crie. Seja sério com a sua palavra. Aja sem esperar recompensa. Combata a importância pessoal. Apague a história pessoal. Não leve nada para o lado pessoal. Pratique os exercícios e as técnicas. Caminhe muitos quilômetros por dia. Siga o seu caminho com coração''. Ela tinha olhos minúsculos, aterradores, de esquizoanalista, e queria dizer PROIBIDO SER SANTO à exigência psico-social geral; de certa forma, aquela psiquiatra alcançara infantilizar-me brutalmente, mas lançando mão de um certo charlatanismo em voga. Ela barateava, na minha cabeça, temas como paixão amorosa, vitalismo intelectual e o papel do senso de humor na vida do escritor proscrito. Assim como agora, uma nova palavra mental instalara-se no ar, mantralizando-o com suspeitas contra a luz da minha consciência. Uma mês depois, no meu caderno de anotações, havia desenhado um B maiúsculo bem grande, numa letra vagarosa e decidida, escrita à lápis: a nova palavra poderia ser BONITO ou mesmo BELO, mas tbm BON, BANHO ou BRASIL (.) ----, concluí. Minha excessiva solicitude, naquele momento, provocava nela um sorriso de fina malícia, discernível numa máscara de paixão desorientadora. Mas se eu reagia com ambiguidades, ela ficava apreensiva, e seu tom voltava a ficar alarmado, mesmo depois de tanta meditação. ---- Um pragmática não-teológica da meditação rotineira (agregou ela), com uma educação da vontade, um treino avançado de auto-utilização, nos moldes de Stanislav Groff. Começando com o controle físico e holotrópico da respiração e conseguindo, por esse meio o controle da pulsão mental, da ''imagem do mundo''. Burguesamente estabelecidos na classe média trabalhadora, as condições da experiência são menos determinadas em conceitos abstratos, do que na presença física, exótica, de um ritual in loco por exemplo, ou mesmo de um laboratório de testes mentais; e se tais condições se reúnem, elas mesmas, em um conceito pragmático, trata-se de um conceito talhado para a própria coisa, um Deus ex-machina à domicílio, sem contexto, que convém somente à experiência em si e que, nesse sentido, não obriga o perceptor à nada mais amplo, seja culturalmente, socialmente, politicamente, que aquilo de que a consciência deve dar conta (.) ---- Joana disse. A nova palavra tremia no ar, indecidível. Joana melhorara aquela palavra retificando os mandamentos do consultório psiquiátrico. Ainda assim, tornara-a SUSPEITA, oleoso manuseio de gerações de Stingginses. Intrigado, eu procurava um meio de limpá-la, enxugá-la, desinfetá-la antropologicamente. No teto dos quiosques da hospedaria, havia cadeiras de banho de sol, e nós nos deitamos numa delas, contemplando o mar com as cabeças projetadas pelo parapeito. Era quase meio-dia; o sol dardejava, quase a pino, do céu escampo; o ar agitava-se, porém, em leve brisa, para logo depois parar e, em seguida, agitar-se de novo. Envolta nessa quentura convenientemente temperada, a pele parecia adquirir uma sensibilidade mais viva, quase uma consciência independente. Como se o sol estivesse lhe instilando nova vida. E essa vida estranha, flamejante, vinda do exterior, parecia perfurar a pele, atravessar e transfigurar a carne subjacente, até mudar o corpo todo numa coisa adventícia, alienígena, feita de substância solar, e a própria alma sentir que perdia por fusão sua antiga identidade e se tornava outra coisa, extra-humana. ---- Não destrua o amor, K, mantenha intacta sua seiva ácida, proustianamente resguardada de ilusões. ---, a voz de Joana saída de um corpo preguiçoso e triunfante: ---- Ainda bem que voce entende, K. Ri disse com seu riso vago, fingindo que mordeu a isca... Mas tudo bem, ''me dando o troco'', certo? Trocamos ligeiramente de papel, mas avançamos os peões no tabuleiro, respirando deliberações. Faz bem ao ego ferido notar reações destinadas à agrada-lo, a gelar o fogo dos olhos. A própria pessoa vem, depois, e lhe conta que, apesar de todo o envenenamento da relação, aquele encontro com você foi como ir à uma escola onde o assunto estudado era ela mesma... Estou entregando os pontos, K (?) --- inquiriu ela. Eu achava que sim. Antes de responder, porém, fiquei um bom tempo olhando os coqueiros que se antepunham ao peristilo, árvores tropicais em movimento, a cabeça como um gradiente de velocidades apoiado sobre as folhas. O cálculo da PALAVRA , naquele momento de beleza perfeita, de minuto liberado do tempo, com vários quilômetros a frente das frases delas, provava o quanto de gosto latente havíamos posto na questão... Ela mesma admitira, com aquelas palavras que pretendem ser devido à alguma influência de escrita depurada, VOCABULA ARTIS. Ó majestade deposta num leito! A visão de Dante tornara-se natural ali, um rio difícil passando no céu das visões e audições. O FLUIR ETERNO!, os ardentes nadas iniciáticos do SILÊNCIO, intentando o RETORNO. Mas, na verdade, eu nada tinha de um homem deitado, rodeado de um ''luxo escabroso'' de números e preocupações. Havia exercício físico o suficiente para que todas as minhas horas de leitura e conversa à beira mar se consumissem numa atlética viagem tântrica através da respiração, até tornar-me um só e forte vento com ela e nosso entorno. A luz coral esgueirando-se lentamente entre leques marinhos e grandes coqueiros agitados no verde fundo geológico hippocampi prânico brilhante. Mais tarde, minhas anotações relatariam tudo aquilo integralmente, com um arsenal de diálogos enxertados no meio, e foi uma ótima surpresa consultá-las de novo, quando saímos para andar sob o céu cinza: ---- '' Se estou entregando os pontos? De certa forma estou, Joana... porque prefiro meus livros mal cuidados do que a psiquiatra, todos aqueles refrões em grego anotados nas margens, modulando a cadência do pensamento com um atritivo jogo de velocidades variáveis, a sempre ''amada'' Nicht Nosheit. Um novo tratado germinado na sombra (.) ---, minhas palavras saíam abafadas, por causa da pressa em continuar a viagem, mas meu tom seguia irônico, como o vento. Quando aquele vento finalmente se transformou numa hecceidade do tipo ''tempestade que rugia'', nós subimos para o quarto e admiramos aquela agitação difusa do Ser pela janela, o redenção de CAOS e NATUREZA, varrendo loucamente o círculo do Eterno Retorno. Viva o Vórtex! Não o futuro sentimental, não o passado sacripanta, mas o Vórtex! Imagismo xamânico vivo, se projetando fotônicamente do DNA para a ''tela''. ---- Em vers libre, ficaria assim, Joana disse:

Duas almas perdidas
se dando um alô no Inferno,
monopolizando o assunto do cérebro
com as chatices do estômago, com 
as bondades do baixo ventre, com
seus perfumes de rosas pisoteadas
e fluxos de fantasmas nos braços.
Imprimindo ao DEVIR, todo o
CARÁTER DO SER
na mais alta voltagem.
Raio, Trovão --- eletricidade
é MEDO! Deus concebido
cientificamente, dizem alguns:
''Como ondas eletromagnéticas''.
Leituras: o Seafer, Confúcio,
Li Tai Po, Rihaku, Cavalcanti (Guido)
Remy de Gourmont, Catulo
Heine ---- FIM

Agora a indecisão se agitava dentro dela, e só o cansaço reduzia nosso dilema instantâneo a alguma coisa que só o sono poderia suportar: sacudidelas na sintaxe, montagem, enunciações sincopadas, variações tipográficas-espaciais, ou o ímpeto permanente do dizer polêmico, iam todos agora mais alto --- no círculo do Eterno Retorno, porém mudados pela potência: mística, embelezados por melopéias, fanopéias, logopéias, a dança do intelecto entre as palavras, sons e imagens acoitados pela ventania, ironia e sátira... tanto faz, eu pensava: parábolas do Evangelho, iniciações e manias, até que alguma recaída fizesse tudo calar e fluir como pura potência da mente. Joana era reconhecida unicamente pelo seu sorriso, um sorriso entendido e saboroso em matéria de impertinência. Assim, K. DUMMheit. E daí incluir Webster, Voltaire e Leibniz por phyllotaxis em folhas de papel pautado.

KM

quarta-feira, 19 de junho de 2019

PALAVRA SIMPLÓRIA

Pára um pouco, e lê-me:
no escuro, laço elementos
motores de fascinação.
L´hypnose en question?
Percebe-se: melhor ficar na praia.
Da Poesia, apenas seu espaço
de identidades assediadas
repontando na carne, com todo
rock´n roll das ondas
gelando as retinas.
Depressa:  o fotolito!
A fotografia apenas, e nada
que possa ser dito.
Off-set volátil domado
num atoleiro de impressões.
Pensando o verso solto,
nenhuma fêmea aponta pistola.
O silêncio assola, mas é
improviso do poeta,
de seu ar de Paraíso ---
a matéria explicada
por sua própria sombra
vai aumentar o feitiço.
Há tanta vida no ermo!
Não fujas, antes sente
no trabalho dileto
todo o viço da semente.

KM

sábado, 15 de junho de 2019

Santa Paz de Paisano

Uma noite pesada, cheia de
temas industrializados. Quase
passo mal, imóvel na santa
paz de paisano. O que fazia
tanta Paciência, tanto foco,
aumentar os preços da possibilidade?,
certamente a possibilidade, ali
lutava, até traduzir-se em gosma;
se aproximava, hein jogral (?),
pedindo água, como quem saúda
a coragem seis vezes
antes de senti-la em si.
Gravura em branco, na Treva
do descuido, na ponta do pincel
pineal: o mau costume de sempre
indagando por seus limites,
desdobrando-se em vaidade
até onde não exista nada
além de sinais telepáticos ---
ATÉ A VERDADE, e seus
horizontes de exorcismos.
Ali, pouco se enxerga
sem antes conversar com o silencio...
bastante informal, o Absoluto
neste umbral de baladas,
suportando de perto a vigília da matéria,
sua inconfundível marca elétrica
no ritmo instantâneo das escolhas,
e suas promessas de multiplicar
com ''atenções''
qualquer coisa no painel;
e seu duvidoso perigo 
queimando ''sins''
após todo após
antes de todo antes
Neste Fogo de jogral
me jogaram, pedindo carona,
alternando a temperatura do enxerimento
com a dos depoimentos pracistas.
Tudo de improviso. SALTO SURDO!

KM

Sobre Holderlin e o Poema

"y tú dices ¿para qué poetas en tiempo de penuria?
pues ellos son como los sacerdotes del dios del vino
que peregrinaban de tierra en tierra en la noche sagrada"
(Holderlin)

Por su parte, Octavio Paz, en "Los hijos del limo" (1986), afirma: "El tema de Hiperión es doble: el amor por Diótima y la fundación de una comunidad de hombres libres. (...) El punto de unión entre el amor a Diótima y el amor a la libertad, es la poesía. Hiperión no sólo lucha por la libertad de Grecia sino por la instauración de una comunidad de hombres libres. La palabra poética es mediación entre lo sagrado y los hombres, y así es el verdadero fundamento de la comunidad".

“Las preguntas de los ángeles son las que han provocado la irrupción de los demonios".
(René Char)

"Fue la suya una creación profética. Su obra es la precursora del estilo rítmico de un Nietzsche, de la lírica de Verlaine, un Baudelaire y de todo lo que hoy pugna por encontrar la más moderna poesía. Sentado junto a los tranquilos arroyuelos, que acompañaban con su suave murmullo la canción de su alma, recreando en sus ritmos las líneas serenas y dulces de las montañas del sur de Alemania, Holderlin fue encontrando poco a poco esta nueva forma".
(Wilhem Dilthey)

"Leí a Hölderlin. Tiene algo de oracular..." "Gusto por expresiones como "lo incierto" "lo devastado" "lo sagrado", frecuentes en Trakl, Hölderlin, reminiscencias de la metafísica, de vida antigua..."
(Alejandra Pizarnik, Diarios)

“Hablar sobre el poema querría decir: desde lo alto, y por tanto desde fuera, averiguar qué es el poema.
¿Con qué derecho, con qué conocimiento podría ocurrir eso? Faltan ambas cosas. Por tanto, sería arrogancia querer hablar sobre el poema. Pero ¿qué hacer si no?...
...Más bien así: que nos dejemos decir por el poema en qué consiste su peculiaridad, en qué descansa...
Un poeta extraño, si es que no misterioso. Existe: se llama Hölderlin...
...En la poesía de Hölderlin experimentamos poéticamente el poema. «El poema» - esa palabra revela ahora su ambigüedad. «El poema» puede significar: el poema en general, el concepto de poema, válido para toda la literatura universal. Pero «el poema» puede significar también: el poema excepcional, marcado por el hecho de que él solo nos afecta por destino, porque él nos poetiza a nosotros mismos el destino en que estamos, lo sepamos o no, tanto si estamos dispuestos a aceptar un destino en él como si no.”
(Martin Heidegger)

"En la inacabada tragedia Empédocles, el poeta nos despliega su naturaleza propia. La muerte de Empédocles es una muerte nacida de un orgullo divino, de un desprecio hacia los hombres, de un estar harto de la tierra, y de un panteísmo. La obra entera siempre que la he leído, me ha conmovido de una manera muy especial: una majestad divina alienta en ese Empédocles".
(Friedrich Nietzsche, a los 17 años, recomendando a su poeta preferido cuando Hölderlin aún era casi desconocido).

segunda-feira, 10 de junho de 2019

PONTO FRACO

Ponto fraco da sociedade contemporânea:
um limbo mimado, sempre desejando
mostrar-se atualizada, e fortalecida
por meras figurações de fatos.
Aqui, a construção crítica do Ser
zomba dos homens futuros
por compreenderem a Noite dos Tempos
como simples reportagem do sub-mundo.
Aqui a hora humana mais expressiva
é absolutamente muda, antes de tudo,
e nas almofadas espancadas
que os empresários usuram como latrinas
nos deitamos abraçados aos nossos produtos.
Aqui faz frio, e a língua comunitária
é um castigo dos pensamento aos ouvidos,
à esperança de emancipação, à própria vida.
Aqui, enquanto cães de pelúcia laboratoriais
esfregam seus pequenos segredos de comércio
no focinho das feras, almas mutiladas
por julgamentos sumários, xingam
o futuro dos que mantém as aparências.
''Querem ouvir mais dos nossos segredos?''
Há uma guerra de perguntas e respostas
excitando o batente dos preços
com todo tipo de quixotismo linguístico.
Muitos fãs são tratados como mongolóides
quando os suplícios de fato
começam a ser ensinados;
há todo um espetáculo indireto
por trás da cena principal,
destinado à ampliar o sofrimento público;
a ofensa e a inveja que ocultam
como segredo industrial deste estado de coisas;
o rosnar contínuo e rancoroso
de presas batendo com a cabeça
que o medo da platéia busca ignorar,
relativamente ao capital variável.
De qualquer forma, estão todos
crescidos Aqui, e cada insuficiência
é comensurável de antemão.
Claro, toda essa estrutura exibi-se
de modo mais grotesco nos jornais,
para que os preços saiam mais ''limpinhos''
das ferragens evisceradas da Matrix.
Quando as coisas ficam muito difíceis,
os mais irônicos e corajosos
(ao revoltarem-se)
trancam-se  nos banheiros com comprimidos;
mas ali, até mesmo suas reações
mais graves, já estão prontas,
esperando ser atualizadas.
A total desintegração do Self,
digamos: o surto psicótico,
o ataque de pânico, a tentativa
de suicídio, se dão naturalmente,
como uma pastilha de tosse
se dissolvendo sob a língua.
Uma caixa de ressonância planetária
reduz tudo à procedimento técnico,
à emoções leves, rígidas e vazias
destinadas à sala de terapia,
onde meses de sono sem sonhos
usurparão da coluna vertebral
todos os reflexos e respostas rápidas.

KM

domingo, 9 de junho de 2019

RISCO DE DAR RAZÃO

Rosto sem licença
(intro-dirigido)
num cálculo balístico
das aparências, até chegar à 
aparência despistadora, 
uma aversão toda esticada 
por falsas concessões (real-
mente pedante, sem
levar em conta os
ferimentos multinacionais
da Terra (quem ligava?).
''Riesgo, al producir sentido, de dar razón''.
Pedaço de réptil exposto
à visitação sexual pública,
fechando a discussão...
Agenda oculta depois, 
no estrangeiro: COMPARAÇÕES
e BALANÇAS, injetadas de Sol
e inúteis súplicas brindantes.
Sabendo a moças sérias
correndo para tornarem-se ''aquilo''
nas cotações do Mercado:
despertar de apetites entre 
restos edificantes de dialética,
deixando-se, aos poucos,
se submeter pela programação.
A Língua reptiliana está aninhada ali,
naquele foco de radiação permissiva,
entre correções de rumo abruptas
e pequenos heróis com pastas.
O Poeta prepara sua leitura
como um vilão de mérito,
com a melhor das intenções.

*

«Hay que encontrar», 
nos explica Bataille 
cuando elige «silencio» 
como «ejemplo de palabra deslizante», 
«palabras» y «objetos» que, 
de esta manera, «nos hagan deslizar»... 
¿Hacia qué? Sin duda hacia otras palabras, 
hacia otros objetos que anuncian la soberanía.

KM

sábado, 8 de junho de 2019

ABAFANDO A LUZ, segundo o Hexagrama 36 (MING I), do I Ching


Guang: o que tinha uma aparência
tão inteligente, agora está roto
e abandonado. Um homem tenebroso
agora comanda a Era da Técnica
com mão de ferro, e na desértica
província, NÃO CABE MAIS NADA.
Apenas uma parcela de terra
obscura, comandando as outras,
que têm que se adaptar, qual fungos.
A Vontade debilitada torna o convívio 
com o povo díficil, crítico. Há muitos
graus de festa ilusórios, antes da
culminação da Sombra Total.
Nossos anfitriões murmuram
a respeito entre si, planejam
a Captura do líder na última cena,
onde um doce Judas advertirá:
''Nunca houve Salvador nenhum'',
indicando subornos calculados
e contra-Evangelhos metódicos.
O Nove na terceira posição significa:
''Obscurecimento da Luz durante
a CAÇADA. A Captura do Líder.
O jogo de velocidades da Perseverança''.
A terra tornara-se um depósito
de espectadores inúteis, mas agora
está pior do que antes (pensam todos).
A ESCURIDÃO chega ao ápice
num instante oco e discreto,
em que a Luz e o BEM
parecem perder suas virtudes.
O Poder das Trevas quer inventar
as próprias virtudes, e vende-las
como mercadorias de Deus.
O Mercado aceita o papel de Deus
mas duvida da própria Escuridão ----
ERRO. DAMIAN-KNIGHT, 
a Sombra Invasora,
o conforto racionalista,
o ofuscamento de todos os stresses,
as confissões de preferências
pelos trechos estáveis
do Poema, do diálogo
que o Mercado antecipa...
Todos sabem que ISSO
não tem como durar tanto
''pero no saberlo''
retrucam
''no es la mejor SUERTE.
la mejor suerte es reventar
quién sos con los sentidos
todos alterados pela subconsciencia
y reinventar la fé en si mismo
en cenas de puro CHI''.

KM