quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

JUÍZO DE AUDIÇÃO VISÍVEL

Toda a crueza do cerco discreto,
quarando ao Sol do olhar ---
inteiriço, sem armistício. O
silêncio, que pede socorro,
espera ver de longe, sem alívio,
todos os russos espinhosos
no peso dessa espera.
Impreciso afeto, sem aceno
ou correspondência, eu me basto
agarrado à germinação dos meus restos.
Afinal, eu não morri a mirrada morte
que me prepararam, e o rosto
era o de menos! A Hidra hidrofóbica,
a palma da mão esquerda,
polícia e carrasco da direita,
acatou os postos esquecidos
e rejuvenesceu sua promessa,
dia após dia, no segredo roubado
do Pai: fechou-se com cuspe o
espírito na carta aberta, sonegando
da Tradição o seu córtex, e
o Mal se fez ouvir, germinando
seus restos na fechadura ácida:
era aço puro aquele rasgo
da respiração presa, subindo do NADA
e se intrometendo em TUDO.
E ainda que perdesse mais de uma vez,
voltava sussurrando altivamente
no Grande Ouvido: ---- Um parto
de novo! Agora, não mais de carne e osso.
Então, a Porta se abria e
mais uma vez, o riso tenebroso
crescia qual onda, rangendo e
depois secando ao Sol.
Não era a morte mirrada,
molhada que lhe prepararam.
O Céu resistia, diante da cena.
Seu desejo de pastorear restos
era obrigado a esperar, ou se contentar
com os restos dos restos, comum.
O Céu rancoroso, que só o amor
não atendido explicava --- a promessa
humana do amor, quantos disfarces
não inventava a Moeda
para manter o homem no chão.
Luta incansável dentro da LUZ,
apagando e acendendo seu
vaga-lume verde, piscando
destinos em confronto
sempre com intenções opostas.
Se deduz que havia uma discussão
desdentada, ocultando os degraus
esperados, enquanto o investidor
avançava pisando em ovos,
elástico e retrátil, através
dos riscos entrecruzados da Sombra,
a Sombra sempre às costas.
A noite, no entanto, acabava
grata ao sonho desfeito nela,
denteado rigor da vigília contínua,
recortada numa ordenação plausível,
sem contra-senso libidinoso
no modo de veicular-se. 
Ainda assim, bastante escorregadio
no guarda-corpo do quarto escuro.

K.M.

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