quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

LONDRES 2

Sou o passeante moderno dos museus: percorro quilômetros de quadros, estátuas, desenhos, documentos etnográficos, folclóricos, correspondências antigas escritas à mão; proponho-me ora acavalar, ora distinguir os diversos ciclos de cultura, consultar uma outra versão da história indicada pela diversidade de ambientes, classes, tipos, indumentária, a variedade dos estilos das obras de arte, instintivo, ritual, gratuita, inseridas num contexto religioso, econômico, político; totalizando uma informação que nos ilumina os caminhos do tempo, desde as incertezas do começo até a plenitude do dia atual e o pressentimento do futuro. Citei a National Gallery que forma com outros museus e coleções de arte e história londrinos um espaço de universalidade, uma sucessão serial de universos. O olho múltiplo de Argus segue por toda parte e o tempo é escasso para tantos encontros diferentes . Digo à ela que há, no entanto, existe uma festa maior acontecendo infinitamente nos livros de John Donne, Shakespeare, Purcell, Thomas Browne , Daniel Defoe, Hogart, Swift, Sterne, William Blake, Shelley, Keats, Turner, Thomas de Quincey, Dickens, Robert Browning, Emily Bronte, Gerard Manley Hopkins, Robert Louis Stevenson, Oscar Wilde, Aubrey Beardsley, T.S. Eliot , além de inúmeros etcs importantes. Da minha parte, nunca tentei manter sob controle o número de palavras sagradas; lembro que na noite em que minha avó morreu, pelo que me foi possível reconstituir, passei um longo tempo sentado na cama dela, naquele casarão decadente, provavelmente lendo. Encontraram no quarto, no dia seguinte, os poemas de Yeats e a Fenomenalogia de Hegel. Além desses autores visionários, eu lia também os cadernos de economia, e sabia projetar sobre a imagem da realidade que pintavam um olhar fixo e glacial. De resto, não estava atualizado com os esportes, nem com a vida noturna, a alta- sociedade ou as famílias ricas; nem com o preço dos carros usados, nem com as revistas. Meu cristinanismo havia se tornado do tipo delirante, com estalos na cabeça. Tive uma iluminação de clareza espantosa. Vi nitidamente a posição em que eu colocava o mundo com minha palavra. Tudo que eu fazia a agradava e cogitei a influência de alguma secreta razão feminina. ----- Respire o ar ----- eu disse ----- Diferente da Rua *, hem (?) ''Esse castelo tem lugares agradáveis. O hálito divino abunda aqui''. Imagine Henry James como chofer, ou Walt Whitman, ou Mallarmé. -, uma vez arrancando, eu discutia máquinas, luxo, comando, capitalismo , tecnologia, Mammon, Orfeu e livros de poemas, os ricos de coração, os discos dos Rolling Stones, a América, a China, a civilização universal.

K.M.

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