sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

ANTECIPAÇÃO

A Música vem desembainhando
o Poema ácido, suado de medo;
Poema de mar fechado, mareado.
Sem, no entanto, morrer
de sua própria repercussão solo,
o Poema atravessa o dia
com sua retina sentindo que,
desde o ultimato adiado do espelho,
resta-lhe apenas refletir um pouco mais
sobre tudo que pede pancada, que
resta atingido, correndo parado e
vendo crescer através de estalos
seu descuidado, vertiginoso lapso.
O Poema se antecipa ao Evento
e à sua bem-comportada
maneira corrompida.
Algumas custas processuais
(claro) 
nascem desta nudez sem cerimônia,
dessa leitura grudenta que
cospe sua baba no escuro,
colada ao indevido onanismo da Meditação.
A partir da nuca, entreabrindo
um banho adulto, de olhar fixo
nas estrelas, a velocidade seca
o Poema de todo nojo, e lavado,
entrelaçado, limpo e enxuto
de todos os seus nós, seu novo uso
se apressa contra a ESPERA.
Dentro de uma cabeça de rascunho,
cozida por dentro, DURA, medida
pela MÃO, borbulham números suados e
alguma postura de indefinição
(rigorosa, ainda que sem jeito)
de onde vazam acenos graves,
sem chance para arrepios.

K.M.

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