quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

TEATRO DA VALORIZAÇÃO CAPITALISTA

As tramas com que o capital espetacularizado hoje se reproduz, no interior de uma venenosa e violenta mistura de poderes, revelam uma estratégia de manegement ambivalente e, muitas vezes, ambígua, fluida, vacilante e metamórfica em alta voltagem, capaz de se rearticular instantaneamente sem deixar de repercutir opressivamente nos corpos sociais. Tais dispositivos de captura das forças de valorização (obviamente) deflagram um processo de progressivo refinamento, desvio, aprofundamento e alargamento de seus horizontes de expansão. Os nexos de saber-poder da Sociedade do Espetáculo, na qual o capital se desenvolve atualmente, se organizam para capturar, desnaturalizando-as, as potências valorizantes do General Intellect (da intelectualidade, mas também, e sobretudo, da afetividade de suas massas de manobra), nas prisões do proprietário e no induzido impulso aquisitivo, numa espécie de teste forçado dos limites da MENTIRA. O curto-circuito entre subjetividade e anomia objetivante começa a se tornar turbulento e incontrolável a partir da percepção, ainda difusa, de sua gravidade social. Primeiro, o capital tentou gerir tal turbulência descarregando sobre o trabalho os custos de seus riscos empresariais; agora, reorganizando-se dentro de um novo modelo modelo de controle (quase imperceptível), aprofundando a exploração que individua os componentes de valorização não mais no tempo de trabalho , mas diretamente nas qualidades específicas (materiais e imateriais) do BIOS e dos territórios sociais (bioeconomia). Essa bem sucedida produção financeira (ilusória) de riqueza (efeitos-riqueza) tornaram obsoletas as categorias de análise econômica moderna, tais como Trabalho-Consumo, Trabalho Produtivo-Improdutivo, Renda-Lucro, Salário-Renda, etc. Tornou-se urgente e necessário desconstruir o ''problema econômico'' no interior de um dispositivo conceitual mais elástico, que supere o enquadramento dos esquemas de investigação presos à gramática econômica. As subjetividades do valor, dos processos de precificação, mudaram profundamente (da fábrica à fábrica social), e com elas as estratégias de exploração empresarial que tornam possível o processo de acumulação capitalista. O novo dispositivo de extração da mais-valia exercita uma ação invasiva (panótipa) de captura das condutas, das emoções, expectativas, desejos, sonhos de consumo e orientações dos indivíduos sociais, que após serem reduzidos à uma massa de consumidores de porcaria na pele de trabalhadores precarizados, na era fordista de acumulação, agora se vêm empurrados para a humilhante condição de cobaias bursáteis sem futuro ou remuneração (dóceis, obedientes e descartáveis, sorrindo seu interminável sorriso de melancia para a TV, asujeitados aos hábitos e regras da Sociedade do Espetáculo). Com uma perigosa dilatação ad libitum da relação débito-crédito, o efeito-riqueza dos mercados financeiros produzem uma espécie de ilusório seguro social para substituir o estilhaçamento do modelo de proteção social anterior, extraindo daí novos impulsos aos seus processos de acumulação (aquilo que Christian Marazzi chamou de ''privatização do deficit spending keynesiano). Tal dispositivo cria novas riquezas confundindo e reorientando os interesses da força de trabalho  assalariada para dentro do próprio corpo do capital, fragmentando-a e enfraquecendo-a politicamente. A subjetividade humana, desorientada e mutilada em seu lado social e político, desconectada da ''propriedade'' do seu intrínseco fazer social (coOperar) e, portanto, submetida aos imperativos do sistema, começa a girar sobre si mesma no vértice mortífero do consumo dos gadgets e de sua ilusória liberdade aquisitiva, originando um cenário no qual o sujeito, o indivíduo humano, vê sua capacidade de ter impressões próprias sobre qualquer coisa, absolutamente restrita às malhas da medida de valor, pelo Teatro da Valorização Capitalista, servindo gratuitamente aos seus imperativos. Tal mecanismo de invasiva subsunção do fazer social no capital  não necessita mais ser instituído dentro do tema do trabalho; funciona dentro e fora dele: no consumo, nos cuidados, nas relações, nas linguagens, nos afetos e até mesmo no inconsciente... de modo que a única subjetividade capaz de alcançar força ética e política para subtrair-se ao gozo persuasivo e mortífero, e ao comando tambÉm violento e repressivo que o capitalismo contemporâneo continua jogando e exercendo sobre nossos corpos e vidas, é aquela derivada dos estados de consciência intensificada, da experimentação livre e apartidária no Olho clarividente da Clareia poética, através do Tantra e da Meditação.

K.M.

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