terça-feira, 12 de março de 2019

ANFIBOLOGIA REPTILIANA

Haverá tempo de poder olhar nos olhos, sem ter 
um peso de desistência despencando abrupto?
Mas o que o Destino acusa está certo:
o jornal suado, oferecido como pressa
de ter pressa, variando o que vai dizer
com furos-faísca que amofinam o tempo;
os óculos-escuros do motorista da ambulância
também estão certos, entre pregão e correria,
fixando a si mesmos na ferida do moribundo.
O Supermercado é todo de carne, rímel,
coque e blusa aberta em três botões
no ato vertical anotado em cada compra.
Sonolento à beira-mar, muita água se gasta
na lagarteante tarde dos olhos, olhos d´água
nos quais as ratas vem esculpir fetos vaidosos,
desperdiçados e sem registro em portfólio ---
mais alguns atletas sem carga na Bolsa?
Não servem mais para acompanhar o pensamento
que se firma através de riscos irritados
e se insere com seu ruído anfibológico
no segredo reptiliano da Fonte.
À PROVA D´ÁGUA, POR ISSO
NÃO PRECISA DE DIQUES: NADA!
EM SÉRIE, E SÓ FUNCIONA
NOS RECORTES MAIS ESTREITOS DA FORTALEZA,
INSERIDOS (ENTRE OS OLHOS)
NA EDIÇÃO AVANT LA LETTRE
DO SIMULACRO, COM CARA DE CÃO
E CASCOS DE CARAVELA NA GRANDE BAÍA.
NOMES, ARMAS E DATAS
MARCANDO AS VEZES DO MAR.
BROTOS E BARCOS À FLOR DA ÁGUA,
E GOLFINHOS-SÍMBOLO, E ARRAIAS
MIÚDAS TRANSLÚCIDAS, PARADAS
DEBAIXO DAS POSTAS LUNARES DA NOITE,
MUDANDO DE COR PELA VIGIA IMÓVEL
E DELIBERADA DE EMPRESAS NÃO-EXCLAMATIVAS.
Aqui, o poema concreto se encerra
e começa o silêncio no grande túnel, feito
à imagem do barco alienígena ovalado
que dispôs seus répteis eruditos ao longe,
mugindo telepaticamente, ao som de tiros,
na cartografia única do armistício conflitante.

K.M.

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