segunda-feira, 11 de março de 2019

ONDA ENVIDRAÇADA

A paisagem da câmera
sopra arrepios no mar,
esquadrinhando uma imitação
de ideal em calmaria. Depois,
o clamor popular, entre um
e outro movimento ríspido,
PASSA (na banguela silente)
parecendo perder o solo de seu privilégio.
''Certo: fume contida, incógnita,
enquanto não vem comigo.
Não dói tanto assim como parece
desperdiçar-se ao prazer confuso,
automático quando oferecido''.
Através do lampejo do que
foi interação, retorna agora o sabor
do que foi ferro refletido na água,
repetido em sombra vacilante no oceano.
Acenos trêmulos impulsionam-me
a encarar novamente o mar,
o raso começo de seu impacto
naquela subjetividade que se formou longínqua
na onda envidraçada de qualquer distância,
tão longe do humano quanto possível
(clara, lunar, composta de resignação
e das resinas de ira e amor da lascívia).
A linha do pescador dá agora um texto
reto, esticado, e um poema com cerol
junto ao puxão único e cortante da paisagem.
Meu metro ileso de alcance original
usa a medida das ondas, e a arte
da espuma rugosa que a circunscreve
para os fins de comoção sombria da brisa.
Não interessada em refletir nada,
a Mão mergulha no Espanto
todas as coisas inomináveis,
lodosas e enleantes, e puxa 
para o fundo o falso gélido olhar fixo.
Dá vontade de engolir o impulso
da gula, e compensar seu manuseio
com amostras de planetas destroçados na mão
enquanto disponho, aqui e ali,
um ensaio de nova galáxia
no contra-ataque de tudo em que piso.

K.M.

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