sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

A complexa transição chinesa ...Un verdadero prodigio de temeridad ...rs Desde Basilea, en el setenta y dos , Nietzsche - Fenômeno que um dia levou o nome de Dioniso. Eles iam ao Teatro para ouvir Sófocles

A complexa transição chinesa ...

A complexa transição chinesa para uma economia menos dependente de investimentos e exportações, e mais do consumo doméstico, choca-se com a herança dos excessos cometidos pelo governo, recentemente, com os megapacotes de estímulos desenhados para escapar da crise de 2008. Além disso, há uma batalha, que já dura dois anos, para estancar a fuga de capitais do país, que em 2015 provocou uma queda no estoque de dólares de U$ 513 bilhões. Ainda assim ,as reservas chinesas chegam a U$ 3,5 trilhões. A transição tornou-se um pouco mais turbulenta, apesar de o setor de serviços vir se expandindo acima da indústria, e com aumento da participação do consumo e declínio do investimento.  Certamente, um endividamento de mais de 230 % do PIB coloca limites à desaceleração dos setores nos quais a economia chinesa se apoia para continuar crescendo num determinado ''ritmo''. Há capacidade ocioso em vários setores industriais, incluindo a construção civil ; excesso de moradias, queda na taxa de lucro das empresas e progressiva deterioração do crédito. As trinta empresas chinesas mais alavancadas tem dívidas correspondentes a 21 vezes seu ''ebitda. Em 2015 o défict público chinês foi de 2,3% de seu PIB, o maior em seis anos.  O Governo Chinês segue injetando estímulos na economia, jogando com isso os problemas para o futuro. Também tentarão , no curto prazo, manejar o problema com a varinha da política monetária convencional. Sem muito êxito, acredito. Em 2015, a intensificação da saída de capitais da China aumentou as dificuldades na equação emergencial do Banco Central chinês, que já era incrivelmente complexa. No último mês desse ano, mais U$ 108 bilhões deixaram o país e 2016 não começou nada bem, obrigando os chineses a intervenções imensas para evitar mais contração monetária, maior perigo então para os bancos , as para empresas ultra-endividadas e o crescimento do país. Em um único dia, o BC chegou realizar recompras reversas de U$ 67 bilhões, e só em janeiro de 2016 foram mais U$ 245 bilhões. A imaturidade do sistema para a conversibilidade mostrou-se flagrante. O yuan descolou-se do dólar, em escalada de valorização, e atrelou-se à um conjunto de divisas de parcerias comerciais. Desvalorização que , num ambiente de alto endividamento e desaceleração, ampliou a fuga de capitais para várias finalidades. O hedge das empresas tornou-se imediatamente crucial, emergencial, após terem considerado-o dispensável durante o período de  valorização do yuan, o que levou à quitação antecipada de boa parte das dívidas corporativas no exterior e intensificou a defesa dos patrimônios passíveis de conversão em dólares.  Em meio a todos esses erros grosseiros de política econômica, o Governo Chinês teve de intensificar ainda mais o controle de capitais para impedir o afluxo de dólares, orientando seus bancos a não estimularem a venda dos $50 mil dólares que os chineses podem sacar, o que impedia os bancos estrangeiros de remeterem dólares para fora e disparando autoritariamente ameaças de graves consequências legais para quem cometesse irregularidades cambiais. A melhor forma de defesa do yuan, no entanto, seria o câmbio livre, para o qual, entretanto, os chineses não tem preparo nenhum. Apesar do superávit em conta corrente quase de 2% do PIB e do enorme saldo comercial, de mais de U$ 600 bilhões, o Governo chinês mostrou, ao longo de 2016 inteiro, dificuldade e hesitação para conter a drenagem de reservas, mesmo dispondo de ótimas armas para tanto.


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Un verdadero prodigio de temeridad ...rs

Desde Basilea, en el setenta y dos , Nietzsche escribe a Malwida von Meysenburg.
Considero, en su carta, las formas de un exergo -errático.

“... finalmente el pequeño paquete que os está destinado [o el pequeño pliego: mein Bündelchen für sie. ¿Se sabrá alguna vez lo que con estas palabras designaban entre ellos?] se encuentra listo y por fin me oiréis de nuevo después de haber estado sumido en un verdadero silencio sepulcral (Grabesschweigen)... podríamos celebrar un reencuentro del tipo de nuestro concilio basilense (Basler Konzil) del que conservo un grato recuerdo en mi corazón... La tercera semana de noviembre y por ocho días me anuncian una visita señorial (ein herrlicher Besuch) - ¡aquí; en Basilea! La ‘visita en sí’ (der ‘Besuch an sich'), Wagner mit Frau, Wagner y su mujer. Hacen una gira para visitar todos los teatros importantes de Alemania pero también, de paso, al celebre DENTISTA de Basilea con quien tengo una deuda de agradecimiento (dem ich also sehr viel Dank schulde).... He llegado a convertirme efectivamente en el filólogo más indecente hoy en día [el más escabroso, der anstössigste Philologe des Tages] y a hacer de la tarea de aquellos que querrían aliárseme un verdadero prodigio de temeridad ''

(7 de noviembre de 1872)

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Fenômeno que um dia levou o nome de Dioniso.

Descobrir nos gregos ''belas almas '', ''áureas frivolidades''  e outras perfeições culturais , admirar neles, por exemplo , a calma  na grandeza , a maneira ideal de ser , a elevada simplicidade ----- dessa ''elevada simplicidade'' , uma ''niaiserie allemande'' afinal  , fui protegido pelo psicólogo que levava em mim . Eu vi seu instante forte, a vontade de poder , eu os vi estremecer diante da violência indômita desse impulso ----- vi todas as suas instituições brotarem de medidas de proteção para se salvaguardarem mutuamente de seus ''explosivos'' interiores. A formidável tensão se descarregava então numa terrível e brutal hostilidade contra o exterior : as cidades se despedaçavam entre si para que os cidadãos de cada uma delas tivessem paz consigo mesmos. Ser forte era um necessidade, não uma vaidade circunstancial : o perigo estava sempre próximo , espreitava-os em toda parte.  A magnifica agilidade corporal, o realismo e o imoralismo temerários, próprios dos helenos , foram uma necessidade e não uma natureza . Eles foram uma consequência, não estiveram presentes desde o início. E com as artes e os festejos, os gregos não queriam outra coisa senão se sentir ''em cima'' , ''se mostrar'' em cima : eram meios de glorificarem a si mesmos, e às vezes, de inspirarem a si mesmos .... julgar os gregos pelos seus filósofos , à maneira alemã , usar a bonomia das escolas socráticas para explicar o que é, no fundo, helênico (?!) Os filósofos são, afinal , os decadents do helenismo , o movimento contrário ao gosto antigo, nobre contrário ao gosto agonal , à pólis e à autoridade da tradição . As virtudes socráticas só foram pregadas porque os gregos tinham perdido as anteriores, realmente xamânicas , do contrário não haveria necessidade nem de se filosofar, nem de escrever ou falar. Mas, irritadiços , medrosos , instáveis, comediantes em sua quase totalidade, eles tinham algumas razões de sobra para deixar que alguém lhes soprasse coisas ao pé do ouvido . E sejamos honestos, em algumas épocas específicas, grandes palavras e belas poses combinam muito bem com ''décadents'' . Felizmente, não mais é o que vem acontecendo em nossa sociedade hoje. Aquilo que é contrário à acentuação pessoal e à individualização é a imitação de um único modelo, sobre o qual nos modelamos em tudo ; mas contra o monopólio midiático que busca assim apropriar-se de uma originalidade que não é sua, afunilando tendências e influências que, em absoluto, não lhe pertencem em nada , esnobamos o pretenso poder diretivo da indústria e colocamos nossa própria radiação paradigmática acima de qualquer outra, em caleidoscópio , fazendo com que, ao invés de se regularem por um ou alguns fetiches televisivos fabricados sob medida para imbecilizar o público, oferecemos cem , mil, dez mil, um milhão de arquétipos diretivos que provém diretamente do Axis Mundi ---- mesmo considerados cada um sob aspectos particulares ----- , transportando idéias e potências que, em seguida, combinamos para exprimir e acentuar nossa personalidade original . Para compreender o instinto helênico mais antigo, muito semelhante a esta situação em riqueza e transbordamento , levemos  muito a sério esse fenômeno que um dia levou o nome de Dioniso, fenômeno explicável apenas por um excesso de força. Na célebre obra de Jakob Burchardt , Cultura dos Gregos, há um capítulo específico acerca de tal fenômeno Quanto à surpreendente riqueza de ritos, símbolos e mitos de origem orgiástica, dos quais o mundo pré-socrático está literalmente coberto , não duvidemos que elas brotavam diretamente  da arte dionisíaca . Pois apenas nos mistérios dionisíacos , na psicologia do estado dionisíaco , se manifesta o fato fundamental do instinto grego : sua vontade de vida. O eterno retorno da vida , o futuro prometido e consagrado no passado , o sim triunfante da vida ultrapassando a morte e a mudança, a vida verdadeira como constituição geral da vida através da geração , através dos mistérios tântricos e extra-sensoriais. Todos dos detalhes do ato de geração , da gravidez , do nascimento , despertavam os sentimentos mais elevados e mais solenes na Grécia Antiga. Na doutrina dos Mistérios Helênicos,  até a dor é santificada : as dores da parturiente significam  a dor em geral ---- todo devir e crescer , tudo o que garante o futuro, requer a dor para se consumar... Para que exista a eterna volúpia da criação, para que a vontade de vida afirme a si mesma eternamente, também precisa existir o ''tormento da parturiente'', eternidade afora ....A palavra Dioniso significa tudo isso : não conheço simbolismo mais elevado do que esse simbolismo grego, o das dionisíacas . Nele, o instinto mais profundo da vida,  o de futuro da vida , a eternidade da vida , é considerado espiritualmente ----- o próprio caminho do deus é o que leva à essa vida mais ampla.

K.M.

Eles iam ao Teatro para ouvir Sófocles

''Que um estado social plenamente democrático é um estado social no qual já não há, por assim dizer, influências individuais '' (A. Tocqueville)

Não há dúvida de que a análise de Tocqueville é justa ao registrar o recuo progressivo das influências fortes e duráveis de família e de corpos na democracia moderna, mas isso não significa erosão e desaparecimento de influências individuais. É verdade que a ''autoridade'' dos grandes mestres intelectuais há muito se eclipsou, e que as classes sociais superiores já não são em nada modelos preeminentes, e que a maior parte das celebridades contemporâneas não representam mais os pólos magnéticos que eram antigamente . Mas ainda que a decadência democrática do mundo rasteje em seu caldo de pequenas influências disseminadas precariamente ''à la carte'' , algo que os gregos nos deixaram de herança (ou pelo menos os atenienses) foi sua poderosa atração por ''belos discursos''  ; de suas obscuras origens sicilianas até a tentativa dos sofistas de dominarem o mundo ''falando'' , a arte da retórica sempre despertou um ávido apego nos ocidentais . Na Grécia antiga, exigia-se inclusive que os atores falassem bem, e o público que ia ao teatro jamais se incomodava pela falta de naturalidade dramática , se em compensação o ator possuísse o poder da palavra. Na natureza, a paixão humana sempre foi considerada ''pobre'' de palavras; quando ela não é ''muda e acanhada'' , torna-se confusa e insensata . E talvez, graças a isso, os gregos tenham se acostumado à falta de naturalidade no palco, e suportado até com certo gosto aquela outra falta de naturalidade, a paixão ''pelo canto'', graças aos italianos . ----- Tratam-se, obviamente, de necessidades que não somos capazes de satisfazer na realidade: ouvir bem e minuciosamente as pessoas nas situações mais difíceis . E o antagonismo permanente do sentido é uma dessas situações, na era democrática. Certamente, nossas sociedades encontram-se hoje no grau zero dos valores: a liberdade e a igualdade constituem nossa base comum de inspiração, mas somente enquanto ''quimeras conceituais'' , princípios constitucionais que tornamos impossíveis, não-positivados , e suscetíveis de interpretações infinitamente contrárias ; o s referentes intelectuais da era democrática nao fazem senão aprofundar essa anemia cultural ,  estimulando um processo ilimitado, vazio e superficial de crítica da crítica, discórdias e questionamentos da ordem instalada, que nada mudam.  Esse é o resultado imediato de um amplo ajuste social promovido pelas forças econômicas da globalização escudada por governos títeres, tanto do primeiro quanto do terceiro mundo, percebido sobretudo na reversão do enraizamento dos mercados. GloBaNalização: a descentralização e integração ao redor do mundo de vastas cadeias de produção e distribuição que acompanham o movimento dos valores em escala global reduzindo a humanidade à um rebanho de consumidores automatizados. Uma concentração sem precedentes na história dos mecanismos de gestão empresarial, além da centralização do poder político na esfera de influência submetida aos agentes transnacionais. A Democracia moderna converteu-se numa plutocracia internacional concentrada nas finanças globais,  cujos paradigmas não estão a serviço nem da liberdade, e muito menos da igualdade. Unanimismo sem clivagem de fundo, onde somente a moda consegue fugir à uniformidade de convicções e comportamentos, muitos deles, inclusive, vindo a constituir uma espécie de ''discurso mudo'' , por lhe faltarem maiores recursos artísticos.  Por isso, ainda hoje, alimentamos a nostalgia e o encantamento dos palcos gregos. Encanta-nos quando somos informados de que, mesmo em apuros, o herói encontrou palavras, motivos, gestos convincentes e, no geral, uma clara espiritualidade em que a vida se aproxima dos abismos da Tragédia Grega e a pessoa perde a cabeça, mas certamente não a ''bela fala'' A heróica falta de naturalidade e convenção do Teatro Grego decepciona quando ''The Rest Is Silent '' ----- o mesmo tipo de decepção que experimentamos quando sentimos que o ''cantor de ópera''  não encontrou uma melodia para alguma forte emoção, mas apenas um afetado murmúrio  e uma grito ''naturais'' . Nesse caso, portanto, é que a Natureza deve ser totalmente CONTRARIADA . Sim, para os gregos, o encanto comum da ilusão DEVIA ser transformado num encanto superior . E eles costumavam ir bem longe nesse caminho, levando sua civilização para as alturas . Criaram um tipo de palco incrivelmente estreito, que impedia qualquer ação em profundidade, não havia ''planos de fundo'', o que tornava quase impossível a mímica e mesmo o mais leve movimento do ator, fazendo dele um espantalho festivo , rígido e caricato , substituindo o plano de fundo da paixão pelo do ''belo discurso''  . A esse respeito , podemos ver nos poetas gregos da Tragédia o que mais estimulou seus esforços, sua criatividade, sua ambição ----- certamente, não foi o propósito de dominar os espectadores pela ''emoção''  , sintoma de arte ruim em qualquer época ou sociedade. O ateniense ia ao Teatro apenas para ''ouvir belas falas'' . Eles iam ao Teatro para ouvir Sófocles (!) 

K.M.

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