sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

DIAGRAMAS DE ANÁLISE

Aquilo que ligamos por setas são ''diagramas de análise'' e pontos de vistas auferidos de certas disciplinas do conhecimento. Pela voz de M. Heidegger, por exemplo, a faculdade filosófica acredita controlar a faculdade científica (''a verdade das ciências se encontra na metafísica''). Mas muitas outras faculdades também reivindicam sua parte, e logo as ciências se encontram sitiadas pelas faculdades teológicas, históricas, sociológicas, linguísticas, econômicas, por disciplinas de engenharia, laboratórios de antropologia e institutos de pesquisa, etc. No papel de sitiados ou de sitiantes, o leque de permutações que podemos imaginar é quase infinito: a técnica ou a religião determinando a economia, ou a economia determinando a metafísica, ou literatura determinando a sociologia. Assim por diante.

Por isso não podemos mais dizer que a essência da técnica é ''ontológica'', como queria Heidegger, ou que a essência do capitalismo é ''religiosa'', como queria M. Weber, ou que a metafísica e a cultura dependem da economia em última instância , como sustenta a vulgaridade do marxismo acadêmico. Nenhuma dessas forças (sociedade, economia, filosofia, religião, línguas, ciência ou técnica ) são mais exatamente ''reais''; elas se tornaram apenas ''dimensões de análise'' por meio de um intrincado processo histórico e cultural que desembocou na mais pura abstração.

Não seria exagerado dizer inclusive que elas ficaram desprovidas de qualquer meio de ação independente, pois os agentes efetivos agora são ''indivíduos'', situados no tempo e no espaço, abandonados à seus particularíssimos ''jogos -script'' de paixões e embriaguez , às artimanhas do poder e da sedução, e aos refinamentos complicados de suas alianças estratégicas e das reviravoltas nessas mesmas alianças. Por uma quantidade incalculável de meios, tais indivíduos transmitem-se uns aos outros uma infinidade de mensagens que todos se obrigam imediatamente a truncar, neutralizar relativamente, absorver e reinterpretar à sua própria maneira.

Nesse caudaloso rio de trocas de dispositivos materiais e objetos é possível discernir várias ilhas, acumulações, irreversibilidades; mas, por sua vez, estas estabilidades padronizadas, estas tendências longas mantêm-se apenas graças ao trabalho constante da coletividade e pela reificação habitual deste trabalho em ''coisas duráveis'' ou facilmente reproduzíveis: construções, estradas, máquinas, textos em papel ou digitalizados...

À serviço das estratégias mutantes que os opõem e os agrupam, os seres humanos atuais utilizam de todas as maneiras possíveis entidades e forças não humanas, como animais, plantas, leveduras, pigmentos, montanhas, rios, correntes marinhas, vento, carvão, petróleo, elétrons, maquinas, etc.

K.M.



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