sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Certos impulsos fortes e perigosos...

Enquanto a utilidade dos juízos de valor morais na política forem somente uma espécie de utilitarismo planificador vazio, enquanto o olhar estiver voltado unicamente para a conservação imaginária de um estado de coisas ideal que nunca existiu na sociedade, e a independência de espírito for procurada precisa e exclusivamente naquilo que parece perigoso para a sociedade e o Estado; enquanto for assim, não poderá ainda haver nenhuma sinceridade conceitual, muito menos moral. Supondo que aí também exista um constante exercício de consideração, compaixão, isenção, imparcialidade, neutralidade axiológica, equidade, clemência, reciprocidade na prestação de auxílio e orientação, e supondo que também nesse estado da sociedade já atuem virtualmente todos aqueles impulsos que depois serão designados como ''honrosos '' e '' conservadores à americana'', na forma de ''virtudes'' , para no fim coincidirem (forçadamente) com o conceito de moralidade política... Nesse caso, resta-nos dizer apenas que, na época atual, tais impulsos ainda não fazem, absolutamente, parte do reino das valorações morais ----- são todos circunstâncias de circunstâncias; são todos ''extra-morais''. Depois que a estrutura de uma sociedade nacional parece estabelecida em seu todo e assegurada contra perigos externos e internos, é o medo da independência de espírito que volta a criar uma imensa onda de novas perspectivas de valoração moral, que no fundo não passam de emoções reprimidas. Certos impulsos fortes e perigosos, quando na eminência de se encarnarem num líder nacional, como a iniciativa, a audácia, a sede de vingança, a astúcia, a rapacidade, a sede de poder e dominação, que até então não tinham que ser respeitados senão hipoteticamente, num delírio sociológico de utilidade pública, são daí por diante sentidos em toda a sua terrível periculosidade, e com força redobrada. Quando os mais elevados impulsos, irrompendo passionalmente na arena política, impelem uma liderança nacional muito além e acima da média, digo, da planície da consciência social e seus velhos condicionamentos bíblicos, o amor-próprio de uma parte da sociedade ameaça perder a fé em si, sua espinha dorsal, por assim dizer, quebra-se em mil pedaços. Logo, é natural que tais impulsos sejam estigmatizados e caluniados, ao menos no começo. O elevado espírito de independência, a vontade de independência, mesmo à uma grande racionalidade política serão sentidos como ''perigo'' ; tudo o que eleva o indivíduo acima do rebanho e provoca medo e desconfiança no próximo passa a ser chamado de ''mau'' ; a mentalidade razoável, modesta, gregária, contemporizadora, dócil e igualitária, enfim, a média dos apetites políticos e sociais se aglutina apressadamente para alcançar um renome honrado com o qual possa se defender do perigo emitindo juízos de valoração moral. E há certamente aquele ponto de mórbido  amolecimento e abrandamento dos pilares da sociedade  em que esta, supondo possível eliminar o ''perigo''  que lhe ''provoca medo'' , decide ''castigá-lo''. A moral da pusilanimidade aqui extrai sua última consequência: quem examinou de perto a consciência política americana, nos dias que se seguiram à eleição presidencial , pôde descobrir nela, até agora, milhares de súbitas dobras e esconderijos improvisados, onde a única coisa que se ouve é : ''Nós queremos que algum dia não haja mais nada a temer (!) ''

K.M.

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