sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

POPULACHO BARULHENTO!

A atração invencível do Novo é um parto em andamento, onde os publicitários são os cirurgiões. Em apertada síntese, podemos dizer que, no momento, ela ''sequer existe''. A insatisfação popular se soma à ruína de todas as ideologias, que agora ameaça despertar uma população que ainda dorme com a febre que clama por mudanças  e com a paixão por tudo o que exalta a liberdade de expressão dos indivíduos.  Quaisquer que sejam as razões de fundo para isso ----- já estamos cansados de enumerá-las ----- que explicam o novo e embrionário arrebatamento nacionalista, este ainda não está livre da concorrência com tudo quanto é politicamente vulgar na Europa. A ópera italiana e o romance espanhol de aventuras não conseguem disfarçar sua influência no pensamento político europeu, nem mesmo na França, mas , por outro lado, me ofendem tão pouco quanto a vulgaridade que podemos encontrar num passeio pelas idéias políticas liberais da atualidade , basicamente tiradas da leitura de livrinhos antigos. ----- De onde vem isso (?) Será que lhes falta pudor intelectual (?)  ----, devemos nos perguntar. Descontados o gosto político atual pela ''moral de ocasião'' e pela ''falsa novidade'', clamamos por discursos maiores. Aquilo que é politicamente vulgar costuma aparecer na cena da disputa com tanta segurança, tão seguro de si, que muitos realmente acreditam tratar-se de algo nobre, adorável, ''tradicional'' da mesma forma que a ópera italiana, do mesmo jeito que Rossini e Bellini eram aplaudidos pelo populacho antigamente. ------ O animal de rebanho, assim como a falsa nobreza, tem seus direito. O mau gosto tem tanto direito de existir quanto o bom gosto, e até possui sobre este uma certa primazia, bastante relativa, caso ele venha a se tornar uma necessidade nacional de fato; a satisfação segura e ao mesmo tempo uma linguagem vulgar, uma máscara e um mímica políticas necessariamente compreensíveis ; em compensação, o bom gosto seleto sempre possui algo que busca, que não se dá por satisfeito , trata-se, para ele, de encontrar algo não totalmente certo à compreensão, que paira alguns metros acima da própria época, enfim, o bom gosto não é , nem nunca foi popular (.) ------, então, quando esse ''bom gosto político'' dá as caras, o que é e permanece liberal revela-se pura máscara. Então, tudo quanto é mascarado  nas velhas melodias e cadências liberais, nos saltos e comicidades dos ritmos dessas ''óperas'' e ''romances '' infinitamente reciclados pela publicidade político-partidária, precisa fugir correndo. Certamente, há uma grande dose de ''vergonha'' no caso, a promoção cultural das idéias liberais, por ser em parte uma simples moda requentada, ofende o artista do pensamento e o força ao enrubescimento. E quando o artista do pensamento, o homem que porta a luz que afugenta as sombras, se enrubesce, é mais do que natural que todos nos envergonhemos junto com ele, porque todos percebemos que ele está permitindo rebaixar-se, voluntariamente, por nossa causa: para que seu ''círculo de qualidades' possa descer timidamente e penetrar na Europa, até mesmo para que a figura do patrão aproveitador possa novamente ceder terreno à do criador empresarial e do herói-estrela da empresa. Obviamente nenhum desses movimentos é sem interesse para o sindicalismo, que já começa a levar em conta essa ''mudança de clima ''em sua linguagem e em suas práticas: a autogestão voltará a fazer figura de has been. Paralelamente, o gosto pelo business nacionalista, por ''criar a própria empresa,  difundir-se-á e ganhará uma nova legitimidade social. Legitimidade reforçada por uma participação mais realista dos assalariados no processo produtivo. Cultura favorável aos processos de ''cooperação conflitual'' nas empresas. 

K.M.

Nenhum comentário:

Postar um comentário