sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

PANCONFUCIONISMO

A China Popular quer pegar o trem do discurso ''asiatista'' ambicionando ocupar a chefia, ao mesmo tempo que alimenta a idéia da Grande China. O interesse nacional chinês na esfera econômica está concentrado numa aposta na continuidade do crescimento acelerado ''a qualquer custo'' e na defesa ''ambígua'' da globalização. E é realmente  irônica a mudança de seu discurso quanto à globalização. Passou a irradiar uma imagem entusiasmada de nação defensora de um sistema multilateral de comércio que restringe políticas protecionistas.  Outra ironia é os Estados Unidos estarem debatendo o quanto tal estratégia lhes favorece.  ''A ABERTURA GERA PROGRESSO (!)'', é o novo lema do Presidente Xi Jinping. Mas o objetivo principal da China, neste contexto, é garantir que países que adotem medidas de anti-dumping contra seus produtos não tenham mais a opção de utilizar com facilidade metodologias de ''valor construído'', que tipicamente levam a um cálculo mais elevado de margens de dumping.  Tal estratégia é certamente completada por iniciativas regionais ancoradas no projeto ''One belt, one road'', ambicioso programa de investimentos em infra-estrutura na Ásia. Por outro lado, o Grande Dragão só pode fazer valer sua reivindicação de UNIVERSALIDADE ''diferente'' da do Ocidente recorrendo ao álibi culturalista e brandindo a bandeira dos ''valores asiáticos'' e ''confucionistas'' diante da ''monomania ocidental'' dos ''direitos humanos''. A falência da ideologia maoista ortodoxa vem sendo substituída pela reciclagem de valores pretensamente confucionistas que serve para criar uma aparência de desenvolvimento harmonioso, ao limitar os apetites culturais  de seus cidadãos. A maior das prioridades do regime sempre foi a estabilidade social em primeiro lugar. Os ex-ideólogos maoístas de Pequim e anti-marxistas de Taiwam, Seul e Cingapura se unem sobre um ponto fulcral: as representações utópicas de um socialismo sem o Ocidente são substituídas por uma aspiração de uma modernidade econômica sem o Ocidente.  O interesse nacional a favor da globalização econômica são ao mesmo tempo um álibi e um ''enigma''. A opção pelo ''todo econômico'' em detrimento da ''construção política internacional''.  A opção capitalista liberal procura mascarar um certo teatro de ''soft power''. Mas meu amor pela China só alcança seu clímax mesmo quando começo a somar na calculadora a quantidade de fóruns, debates, jornais e publicações de todo tipo que a República Popular promove atualmente para tentar conferir uma ''dimensão internacional'' à ''ética confucionista '', a ''globalização '' vista como liame da filosofia milenar do ''Todo sob o Céu''.

K.M.

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