segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

MOMENTOS DA VERDADE.

Em todos os lugares hoje em dia se trata mais o u menos de tudo e é bom que seja assim. A par das tendências de nivelamento que SE CRUZAM entre si ---- e com isso eu chego ao tema ----, observam-se tbm tendências paralelas. Em primeiro lugar, a penetração de maneiras de pensar históricas e etnológicas nas disciplinas de orientações teóricas fortes ; o mundo da vida só aparece ainda no plural; a eticidade substitui a moralidade, o cotidiano substitui a teoria, a ruptura, a continuidade, o particular, o universal. Essa tendência, por um lado, despertou a desconfiança contra as fortes sistematizações e super-generalizações, contra as construções de teor normativo  de modo geral ; por outro, promove uma auto-desconfiança falibilista salutar e a tolerância em relação aos modos de proceder de ciências maleáveis, que não se sujeitam aos ''standards '' científicos positivistas. Hoje nada é menos aceitável do que a distinção normativa da ciência unitária ---- a concepção de ''unified science . Em segundo lugar, muitas abordagens filosóficas convergem hoje na suplantação do paradigma da filosofia da consciência, dominante faz mais de duzentos anos ---- com seus conceitos chave de sujeito e consciência de si. Essa crítica tem naturalmente seus precursores nas tentativas pragmatistas, linguísticas e antropológicas de elevar a um nível filosófico , contra o dualismo cartesiano de corpo e espírito , categorias ''terceiras '' como AÇÃO , LINGUAGEM e SER VIVO . Em uma consideração interna à filosofia,  Nietszche e Heidegger devem sua incrível atualidade constantemente renovada nos dias de hoje à esse enfrentamento. E julgo que um dia ainda veremos o verdadeiro FEITO FILOSÓFICO (Ereignis ) de nossa época na remoção  absoluta do paradigma da consciência para o da super-consciência, semelhante ao corte de sua inauguração em termos de filosofia transcendental por parte de Kant . Mas ainda há o que se discutir sobre o desfecho correto desse processo de substituição que, entre outras tantas coisas, pretendemos estar ''operando integralmente '' na ''superfície de todo o planeta'' nesse ''exato instante ''. Trata-se da questão de saber se CONTINUAMOS  a autocrítica de uma modernidade em conflito consigo mesmo e se podemos obter , no interior do horizonte de nossa própria atualidade, uma certa distância suficiente em relação às patologias do pensamento voltado ao PODER DE DISPOR ----- ou se, como muitos ainda afirmam, o projeto de uma emancipação da menoridade auto-imputável já se encontra definitivamente exaurido. Aqueles que como eu acreditam deixar para trás sem remorso todos os paradigmas e poder adentrar na clareira intensiva da criação e recriação das formas são representativos de um terceira tendência. Assim, procuro vincular minha crítica da filosofia do sujeito a uma crítica da razão na qual a razão só aparece ainda em ''genitivus subjectivus '' ----- e na qual , de modo paradoxal , permanece em aberto quem ou o que deve ocupar o lugar do ''genitivus subjectivus '' (se já não é mais a própria razão ). A essa minha crítica TOTAL da razão se vinculam muitas outras  ''despedidas '', não apenas a de Descartes, mas tbm de todas as suas virtudes : do pensamento metódico, da responsabilidade teórica, e daquele igualitarismo do pensamento científico que rompeu com todo acesso privilegiado à verdade.  Minha cruzada contra uma razão instrumental inflada em totalidade assume, ela tbm, alguns ''traços totalitários''.  No entanto, mesmo assim, apesar de seus ''defeitos'' ,  minha tendência esconde um momento de verdade singular -----  que quando um  processo de Esclarecimento é interrompido, é porque ele está precisando  esclarecer a si mesmo.

K.M.

Nenhum comentário:

Postar um comentário