segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Ápice da Meditação

IMPRIMIR AO DEVIR O CARÁTER DO SER. Conservar o mundo do ''sendo '', da duração ---- que tudo retorna sem cessar é a extrema aproximação de um mundo do DEVIR com um mundo do SER. Ápice da meditação. A aparência era o que emprestava o valor. O DEVIR considerado como invenção, como querer, como negação de si , como vitória sobre si mesmo; não um sujeito, mas uma AÇÃO , uma avaliação criadora, nada de ''causas e efeitos ''. A arte considerada como vontade de suplantar o DEVIR, como ETERNIZAÇÃO, mas de vista curta, segundo a perspectiva : repetindo de qualquer forma, em pequena escala, a teoria do conjunto.

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Causa e efeito. ''Explicação '' é como chamam isso. Mas é ''descrição'' , o que nos distingue das etapas mais antigas do conhecimento e da própria ciência. Explicamos tão pouco quanto todos os antigos ---- mas DESCREVEMOS MELHOR. Trouxemos à tona uma sucessão diversificada enquanto o homem e o pesquisador primitivo das antigas culturas só via as coisas de duas formas, como CAUSA como EFEITO, conforme o discurso; aperfeiçoamos a imagem do VIR A SER ,mas nao avançamos com a imagem por trás da imagem. Em todos os casos, a série de causas situa-se à nossa frente, muito mais aperfeiçoada, e concluímos que isso e aquilo devem vir antes, para que aquilo outro venha depois ---- mas com isso NÃO-ENTENDEMOS-NADA. Por exemplo, tanto antes quanto depois, a qualidade em cada ''vir a ser '' químico parece um ''milagre '' , assim como todo avanço; ninguém ''explicou '' o impulso. Como poderíamos explicá-lo ???, mexemos com um monte de coisas que não existem, como linhas e planos e tempos e espaços fracionáveis ---- como seria possível explicar as coisas se primeiro transformamos tudo numa ''imagem '', A NOSSA IMAGEM !

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É suficiente encarnarmos a ciência como uma humanização das coisas, o mais fiel possível, aprendemos a nos descrever com cada vez mais perfeição, na medida em que descrevemos as coisas e sua sequência. Causa e efeito : provavelmente uma dualidade como essa não existe nunca, na verdade, há um ''continuum '' à nossa frente, do qual isolamos alguns pedaços, assim como sempre percebemos um movimento apenas como pontos isolados, que na verdade não vemos, mas que concluímos existirem. A forma repentina como muitos efeitos se sobressaem nos deixa confusos; mas ela é repentina APENAS PARA NÓS. Nesse instante repentino, existe uma quantidade infinita de processos que nos escapam . O intelecto que visa a ''causa e o efeito '' como um ''continuum '', e não à nossa maneira de ver, como algo partido e fragmentado aleatoriamente, talvez fosse capaz de ver o fluxo do acontecimento em suas minúcias constitutivas e estruturais , e rejeitaria o conceito de causa e efeito, negando TODA CONCESSÃO DE CONDICIONALIDADE à uma forma de cognição mais depurada e exigente.

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A razão é portanto uma fonte de revelação para o que é em si. Mas a origem dessa antinomia não tem necessidade de remontar necessariamente a uma fonte sobrenatural da razão : basta opor-lhe a verdadeira gênese das idéias ---- essa retira sua origem da esfera prática, da esfera da utilidade, e eis porque possui ela sua ''fé viva'' (pereceríamos se não concluíssemos segundo a razão : mas por meio dela o que se afirma não está ''demonstrado '' . O erro dos filósofos reside no fato de verem na lógica e nas categorias da razão, em vez de meios para acomodar o mundo a fins utilitários (portanto, em princípio, para uma ''falsificação útil ), o ''critério de verdade '' isto é , da REALIDADE . O critério da verdade era com efeito apenas utilidade biológica de semelhante sistema de falsificação por princípio---- os meios foram mal interpretados como medida de valores, e utilizados até para condenar sua própria intenção...a intenção era de enganar-se de uma maneira útil ; o meio era a invenção de fórmulas e de sinais pelos quais se pudesse reduzir a multiplicidade acabrunhante a um esquema útil e manuseável.

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Nosso mundo empírico seria tbm condicionado pelas fronteiras do conhecimento aos instintos de conservação ; teríamos por VERDADEIRO, por bom, por precioso o que serve para a conservação da espécie... e a vontade do verdadeiro não é uma potência moral, mas uma forma da vontade de poder. As diferentes teorias fundamentais do conhecimento são consequências de apreciações de valores.

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Num mundo que está em seu DEVIR, a ''realidade'' é somente uma simplificação em face de um fim prático ou uma ilusão fundada sobre órgãos grosseiros, ou uma alteração no ritmo do DEVIR.

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Sustentar que as coisas tem uma modalidade em si, abstração feita da interpretação e da subjetividade, é uma hipótese absolutamente ociosa : esta suporia que o fato de interpretar e de ser sujeito não é essencial, que uma coisa afastada de todas as relações é ainda uma ''coisa ''. Ao contrário, o caráter das coisas, ''objetivo '' na aparência, não pode reduzir-se simplesmente a uma ''diferença de grau'' em meio do subjetivo ???, O que muda lentamente apresenta-nos como ''objetivo'', como ''sendo '', como ''em si '' ??? Ser o objetivo somente uma falsa concepção da espécie, uma antinomia no meio do subjetivo ??Contra o valor do que é eternamente igual a si mesmo ( vede a ingenuidade de Espinosa e tbm a de Descartes ), o valor do que há de mais curto e passageiro, o traiçoeiro brilho de ouro no ventre da serpente da vida.

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É PRECISO REUNIR-SE MUITA COISA PARA QUE SURJA UM AUTÊNTICO PENSAMENTO CIENTÍFICO ; E TODAS ESSAS FORÇAS NECESSÁRIAS TIVERAM QUE SER INVENTADAS, TREINADAS, CULTIVADAS INDIVIDUALMENTE. MAS EM SUA INDIVIDUALIZAÇÃO, FREQUENTEMENTE ELAS REVELARAM TER UM EFEITO BEM DIFERENTE DO QUE TEM HOJE, EM QUE, NO ÂMBITO DO PENSAMENTO CIENTÍFICO, ELAS SE RESTRINGEM MUTUAMENTE E SE MANTÉM CONTROLADAS : ----TIVERAM O EFEITO DE VENENOS, COMO POR EXEMPLO O IMPULSO DA DÚVIDA, DA NEGAÇÃO, DA ESPERA, DA REUNIÃO, DA DESAGREGAÇÃO. ANTES DE APRENDER A DOMINAR ESSES IMPULSOS, A HECATOMBE. DEPOIS, JUNTAS, COMO FUNÇÕES DE UMA SÓ FORÇA ORGANIZADORA EM UMA PESSOA. E ENTÃO CHEGAMOS PERTO DE DESCOBRIR QUE PARA O PENSAMENTO CIENTÍFICO TBM PRECISAMOS DAS FORÇAS ARTÍSTICAS E DA SABEDORIA PRÁTICA DA VIDA, QUE NELA SE FORMA UM SISTEMA ORGÂNICO SUPERIOR COM NOSSA FILOSOFIA.

K.M.

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