sábado, 5 de janeiro de 2019

Agentes dispostos a romperem a cerca institucional

Na verdade, enquanto os liberais norte-americanos precisaram buscar na época novos argumentos diante de uma situação imprevista, ao longo dos anos 1970 a doutrina neoconservadora alcançou o cotidiano político da América através da imprensa. Eles podiam extrair a munição do potencial  de argumentos de seus mestres, a fim de combater praticamente o que contradizia sua teoria, tomando-a como maquinações de um obstáculo interno. Em relação à alguns compromissos ou debates que pareciam prometer alguma perturbação nos fundamentos afirmados , eles só precisavam dar nome aos agentes dispostos a romperem a cerca institucional feita em torno de uma certa ''cultura política '' oficial .

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Essa guinada em relação ao aspecto prático e polêmico muitas vezes explica porque os neoconservadores puderam caminhar pela trilha que tomaram , não precisando oferecer nada de absolutamente novo no plano teórico. Quando muito, é novo aquele professor que cumpre corajosamente seu figurino nos fronts semânticos da dialética virtual.

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A crítica aos intelectuais, à qual Arnold Gehlen dedicou o trabalho de uma década de vida e que foi ampliada por H. Schelsky na teoria da Nova Classe bebe de tres fontes. De inicio ela mobiliza aqueles cliches que se amontoaram na historia de um palavrão, desde os dias da campanha contra o capitão judeu Alfred Dreyfus (1894). Dietz Beringg investigou essa história , e seu estudo agregou um catálogo de termos curtos e grossos que vai de ''abstratao '', ''abstruso '', e ''sedicioso '' , passa por ''decadente '', ''formalista '', ''suspenso no ar '' , ''critiqueiro '', pathological liar , ''oportunista '', ''parasitário '', ''radical '' , ''alheio à raça humana '', ''revolucionário mordaz '', ''sórdido desalmado '', '' autocrata sem substância '' , ''e chega à ''estiolado alheio ao mundo '', ''desenraizado desagregador '', ''indisciplinado cínico '' , etc. Para quem atravessou esse catálogo com seus quase mil registros, a crítica mais recente ou mesmo ''clássica ''ao ''intelectuais '' não pode dizer muito de novo. 


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Em segundo lugar , a afirmação de uma dominação sacerdotal erudita apoia-se em determinadas tendências de sofisticação da linguagem humana. Assim , por exemplo , nas sociedades pós-industriais cresce a importância do sistema científico, em função da minha própria magnitude enquanto cientista.

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O terceiro elemento é meu vínculo com a idéia de crise, e uma certa acusação de ''monopólio ' intelectual sobre o conceito. Inclusive todos os perigos que envolvem uma ''terapêutica da cientificização crise '', operando num âmbito de atuação insatisfatoriamente profissionalizado e daí derivando a maior parte dos perigos e ambiguidades da manipulação de informações.

K.M.

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