quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

YOGA FINANCEIRA

...socialização dos riscos, mas também das perspectivas complementares de enriquecimento que põem em jogo a direção do ajuste dos comportamentos humanos necessários para uma relação lucrativa entre soberania estatal e financeirização da economia. Nesse contexto, o nível da produção de riquezas de um país torna-se resultado direto da mera avaliação acionária,o que inverte a relação entre esfera real e financeira da economia que prevalecia durante o fordismo: a dinâmica do mercado acionário substitui o salário como fonte de crescimento cumulativo. Assim, a financeirização dita os tempos da reorganização capitalista, facilitando a subsunção da circulação no interior do processo de valorização. Desenvolve-se, em outras palavras, verdadeiras e peculiares formas de apropriaçao disso que surge como simples valor de uso. O comando da New Economy criou rendimentos acionários destruindo salários e estabilidade ocupacional, em sintonia com um novo senso comum, presente na cartilha liberal americana e propagada pela mídia especializada em lobby democrata: as condições vigentes nos mercados financeiros para criar valor acionário  incentivam inovações organizacionais extremas, promovendo processos de downsizing, reengineering, outsourcing, merger e acquisitions ---- desvalorizando o trabalho vivo. A recuperação da Bolsa americana em 2003, por exemplo, só se deu através de uma CONVENÇÃO complementar à CONVENÇÃo do capitalismo cognitivo, com que já se operava,entendendo que a valorização acionária dependia também de outsourcing em direção aos países emergentes com elevada exploração do trabalho e do ambiente, ainda que dentro do mesmo paradigma tecnológico, como a China e a Índia. Algo como um exército industrial de reserva, de origem essencialmente financeira, que desterritorializou completamente a geração de empregos no mundo, caracterizando-se (em todos os pólos do processo) pela difusão do perfil do trabalhador traumatizado, poupador, maníaco-depressivo, alienado, adestrado (politicamente) pela indústria cultural americana e reduzido a um flagelo de consumidor endividado. No fim das contas, o excedente do trabalho vivo não vem ''reconhecido'', legitimando apenas a produção do capital.

Post Scriptum

O problema da emancipação laboral (obviamente) reside na irrelevância com que são tratados pelo monopólio midiático liberal aqueles comportamentos subjetivos (e cooperativos) dos quais dependem tanto a sustentabilidade do regime de acumulação quanto o possível exercício de um conflito. De modo que torna-se necessário (e urgente) se perguntar: até que ponto pode durar essa super-exploração constante (de natureza Democrata e Liberal) das consciências qualificadas que são sedimentadas graças a determinados fatores institucionais (a democratização do saber subjugada pelas fábricas de fake news alienantes)? Isto é, sob quais condições a consciência humana pode continuar a representar um fundamental elemento de valorização no capitalismo contemporâneo, enquanto o que há de mais elevado e precioso continuar sendo deturpado pela ganância e a desfaçatez do lobby especializado e politicamente aparelhado?

K.M.

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