sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

GRACEJADORES LOUCOS

Pound, Eliot, Joyce e Proust tinham mantido inatacável integridade, pelo que herdaram o prestígio sacrificado por outros poetas e romancistas que , abandonando o estudo imparcial dos motivos humanos e a expressão daquelas emoções universais que unificam todas as classes e pessoas, haviam se tornado sectários intolerantes ou gracejadores loucos. E essencial para eles essa decidida independência e avassalante absorção pela literatura para conservar-se inabalável diante das paixões e temores da época ; e nas obras-primas que tais escritores espalharam, produzindo em isolamento, quase secretamente, enquanto o pandemônio raivava lá fora ---- a justificativa existencial deles parecia a mais clara possível : Seus livros revelavam novas descobertas, artísticas, metafísicas, iniciáticas e psicológicas: cartografavam os labirintos da consciência humana como, aparentemente, ela nunca havia sido cartografada antes pela arte. O mundo passava a ser concebido de maneira nova graças àqueles vôos da percepção literária ; uma dúzia de obras-primas literárias de um mesmo período transformavam-se num imenso acidente extra-literário.

K.M.

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