segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O PODER DE DOMAR DO PEQUENO, Segundo o Hexagrama 9 (HSIAO CH´U), do I Ching

O Poder do Pequeno Tirano é sombrio,
retém e amansa, filtrando os mínimos
acordes oferecidos pela moça ao piano.
O piano está enguiçado, entretanto, o
seu prazer está cumprido, e uma tecla,
a bater na hora espessa do sono,
anuncia a chegada do VENTO.
A Linha Fraca sopra nas alturas,
retendo as nuvens na
ESCADA DO CÉU (CH´IEN).
Quando olhamos a forma escura
que o dia perdoa, nossa vontade
se condensa sobre o piano, e o
AMOR, que os dedos acumularam
SUAVEMENTE (digo: com êxito)
 nasce sobre o piano-tempo
antes de transforma-lo em chuva
e murmúrios no ''chão nublado''.
Na Côrte do Poderoso Tirano
CHOU HSIN, o respeito pelos fantasmas
é tanto, que a poeira profusa salta
e circula entre a matéria sarcástica,
irredutível à pele e sua resina fotostática.
Há toda uma rede de captações nuas
protegendo a DOCILIDADE do ESPANTO.
Os fantasmas se encostam em nós
com suas medidas preparatórias
disfarçadas de afagos, uma vacilante
ajuda a persuadir-nos do outro lado da NOITE.
E existem ainda outros obstáculos
no CAMINHO: o medo imemorial
dos inspetores, a má reputação
da Penitenciária, os caça-fantasmas
que jazem nos pinos dos móveis da Cadeia,
renovando meu desejo de partículas ácidas
e confiantes --- em cada tábua se sucedendo
um íncubo perturbado desta
PROFUNDA CONFIDÊNCIA, 
em que todo o poder de influir
está agora ''amavelmente circunscrito''.
Circunscrito à DOMA da ASA DE CORVO 
(claro) mas o assunto é hermético demais
e falta-nos palavras e humour para 
aprimorar sua correta expressão.
O VENTO, a ASA e a DOMA... uma
sonolência rígida se apossa
da noite autista e imperial, e a re-
ação do PIANO, ante o sentido
modificado de TUDO, é esta:
Nove na primeira posição
(jovem experimento, brilho fácil
de rapsódias. NENHUMA CULPA).
Outra vez: golpes de ar açoitando
o mundo exterior, onde as rodas
da carroça perderam seus aros.
Ora, para quê expor-se inutilmente,
quando as possibilidades das
GRANDES COISAS está suspensa?
O piano é sinistro, mas adaptável;
meio grotesco, mas perfeitamente capaz
de se conter... COMO EXPLICAR?
Ainda algum gosto de USA no
''modo de domar a Linha''?
Certamente persiste aquele
corpo-outro do PIANO, em que
se apoiava a ''coleção de re-tratos'',
e também alguns livros antigos, e cartas,
e costumes e jeitos de olhar, além dos
feitiços cruciais da cabeça, como certas
antipatias e inclinações infalíveis, ETC...
A FAMA, bem sei, mas e esse
PIANO?, ainda tocando por baixo
da ZONA SENSÍVEL, abaixo da própria
CORRENTE SANGUÍNEA, dotado de
terraços que só a cólera, a angústia e o
alarme explicam, com seus Provérbios acidentais 
(MI: aproximação densa e
JIAO: na fronteiro do Reino).
O PIANO tem fragmentos de unha
de Aníbal, jogados entre suas
teclas de prata, mas prefere
parar de amofinar o mundo
com tamanho peso nervoso.
O MALEÁVEL, que consegue seu lugar,
é a Linha 4 (Yin em posição Yang).
Consegue-o adaptando-se ao Imperador,
focalizando a ação de todas as Linhas Yang
do Hexagrama, que pergunta: ''E você, Girafa, 
tentando meu pensamento com o grude 
de todos os testes d personalidade? ---
tens agora um palco onde representar
as obras-primas dramáticas
de todas as literaturas; e
resta-nos ainda a esperança da
INSÔNIA a amanhecer o mundo,
mudamente, sem notícias,
clandestina, escarninha, vingativa e
pesada em seu deserto de sombras,
onde hoje impera, totalmente sozinha,
a DESDENHADA SABEDORIA DO CAOS.
SHANG: acumular-além ----
é um piano sem dona, sem
dedos, sem queixas, sem música
na fria mansão do NADA, onde um
resto de alcova martela e socializa
uma série de dúvidas barrocas.
O elemento forte do Hexagrama
não tem como corrigir ISSO:
ele foi rechaçado lá, onde esperava
uma vitória fácil, e ''comprometeu-se''.
Seis na quarta posição significa:
''Seja sincero. Pare tudo imediatamente,
porque ninguém sabe o que virá'':
versos-jugulares?, transmutadores de
cartilagens?, leituras de Marx e
nostalgias asmáticas?, mãos de
datilógrafo com intuição de pianista?
A palavra aqui é: DESCATASTROFIZAR-SE,
e com todo o cuidado possível, nem que seja 
arrastando-se como um lagarto nos 
jardins do Pentágono, mas menos bela e,
sobretudo, mais urgentemente que um lagarto.
NÃO ESTÁ MAL. 
NÃO É DIFÍCIL. 
Apesar de
o trigrama VENTO ser de natureza Yin,
ele consegue conter as energias do Céu.
O ponto principal do Hexagrama
é a contenção do Yang pelo Yin:
a energia do Céu nem aumenta,
nem é liberada, e nem se fode 
por cauda DISSO.
Pequenas atividades trazem
GRANDES BENEFÍCIOS.
Enquanto os condenados de
ânimo irrefreável, não se detém
ante nenhum despilfarro de energias,
o Sábio se administra e automatiza,
convertendo seus braços em palanques
e suas pernas em bases de cimento,
e seus códigos em bem aceitas
bisnagas de jornalismo emergencial,
e seu estômago num condensador,
e seu cérebro num dínamo silencioso.
Então surge o TEMPO LIVRE no
ESPAÇO INCRIADO RIGPA, a
CULTURA e seus caóticos subúrbios,
dando voltas e voltas no
GLOBO TERRÁQUEO, com ócio
impossível e criador em cada
comentário bem humorado e erudito
do pianista-datilógrafo.
Retornando arrastado para a
POSIÇÃO CENTRAL, certamente
não se perde mais tempo do que
num momentâneo eclipse da serenidade.
Num arrebatamento de LUXURIOSA DISCIPLINA
(agora se sabe) o ''instante '' voltará a si,
armando e desarmando suas peças
sobre os iminentes escombros do
bem apreendido entorno: um AMOR
sobre o qual não escreveremos NADA,
porque a vitória nunca é artística
no Precipício que devolve nossos latidos.
O Precipício, no entanto, é DE TODOS!, e
basta solidarizar-se com sua
elétrica glória ou sua
fosforescente trégua, para que
nossas tontura e vertigem cessem,
com todas suas fadigas e indisposições,
e seus olhares atravessados, e seus
carros de esponja virtual, e suas
nocivas regularidades astrais e
mênstruos econométricos e
metodologias iniciáticas infrutíferas.
A esperança no Movimento só volta
a nutrir a Roda do Dharma depois,
quando o VENTO desistir de
monopolizar o assunto da projeção.

K.M.

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